John Maus
“We Must Become The Pitiless Censors Of Ouselves”
Upset The Rhythm
5 / 5
Se há condimento que não tem faltado ao cardápio de muitas das propostas que a música nos lançou nos últimos anos ele é o “sabor” oitentas. Em concreto, o tom algo ingénuo, mas ao mesmo tempo aventureiro e decidido com que, em clima pós punk, e com as novas electrónicas de então por companhia, se inventava uma nova pop... Os últimos anos viram muitos novos discos procurar nestes cantos da memória os pontos de partida, porém tantas foram já as vezes que pouco se avançou para lá do decalque (com tempero “moderno”) que este parecia destino estafado na hora de procurar focos de inspiração. Felizmente há excepções. E através do novo disco de John Maus fica bem claro como, de um terreno tão visitado, ainda podem surgir grandes ideias. Homem de interesses multifacetados (está neste momento a preparar uma tese em filosofia política), John Maus começou por revelar um interesse pelos caminhos da música experimental, o seu contacto com Ariel Pink abrindo caminhos que moldariam outros rumos, que agora nos conduzem a We Must Become The Pitiless Censors Of Ouselves. O álbum toma ferramentas electrónicas com travo vintage por elementos de protagonismo num cartaz de ideias que mostra na genética memórias que passam por uns Joy Division ou Human League. Canções pop feitas de uma luminosidade que todavia não ofusca pela aparente vontade em não polir arestas, cruzam um alinhamento que, sem deixar dúvidas quanto aos ecos dos oitentas que se evocam, em nada procura uma lógica de revisitação. Pelo contrário, usa ferramentas e memórias em serviço de canções que traduzem uma personalidade maior, que a voz ajuda a moldar e tornar peças únicas. Entre a multidão de propostas que a pop electrónica recente nos mostrou, este é um disco a ter em conta.