David Sylvian
“Died in the Wool: Manafon Variations”
Samadhi Sound
4 / 5
A ideia de colaboração sempre foi cara a David Sylvian. Na verdade, e mesmo antes de editar um disco em nome próprio, os seus dois primeiros singles – Bamboo Houses / Bamboo Music (1982) e Forbidden Colours (1983) – foram parcerias nas quais dividia o protagonismo com Ryuichi Sakamoto. Ao longo da sua discografia vimo-lo ao lado de figuras como Holger Czukay (assinaram juntos dois álbuns em finais dos oitentas), Jon Hassell (participou no EP Words With The Shaman, de 1985), Robert Fripp (no álbum Gone To Earth e, mais tarde numa série de parcerias nos anos 90) ou com Burnt Friedman (via Nine Horses, já na década dos zeros). Pelo caminho chamou muitos mais aos seus discos, assim como marcou presença convidada em gravações de terceiros... Colaborar é, de resto, verbo que David Sylvian sabe conjugar. Atitude que lhe garante renovados desafios, a sua música descobrindo permanentemente novos caminhos, não se repetindo, antes procurando sempre o desbravar de terrenos. E uma vez mais é perante uma impressionante família de colaboradores que propõe um novo disco que, apesar de ter o ainda recente Manafon como ponto de partida, não representa um esforço de remisturas (tal como The Good Son VS The Only Daughter havia lançado novos olhares sobre Blemish, o seu álbum de originais de 2003). Died In The Wool - Manafon Variations representa, como o título de resto sugere, uma experiência de reinvenção criativa a nível da composição. Há aqui temas que têm origem em Manafon, mas surgem em leituras que desafiam as formas originais, na verdade parecendo mais reflexões (as tais “variações”) que novas versões. Da presença das cordas (mas evitando a lógica clacissista que muitas vezes a sua presença comporta em discos nas periferias da cultura pop) a intervenções de músicos convidados (alguns com percurso talhado em vários espaços nas cercanias do jazz), as “variações” sobre os temas já conhecidos e os originais inéditos revelam um aprofundar de ideias que, depois de Blemish e Manafon parecem definir um novo espaço coerente no universo da obra de Sylvian onde texturas, pontuações, sugestões e discretas filigranas de acontecimentos servem de fundo aparentemente abstracto sobre o qual a voz expressiva e única do cantor trilha novas formas (mantendo em tudo firme antigas marcas de personalidade). Afinal não é isto o que se chama evoluír?