segunda-feira, setembro 26, 2011

Mês Björk (26):
A escolha de Tiago Pereira



Ao longo deste mês fomos escutando visões de alguns jornalistas da nossa praça sobre a música de Björk. Hoje ouvimos o que diz Tiago Pereira, do jornal i e autor do blogue Independanças, sobre o seu álbum preferido da cantora islandesa. Que é Post, de 1995. Ao Tiago, desde já, um muito obrigado pela colaboração.


Em 1995, Bjork publicou o seu tratado sobre “como destruir o mito da dificuldade do segundo álbum”. Depois de Debut, que confirmou perante todos os cépticos que a Islândia é um pais de danças quentes – ainda que construídas a partir de recursos de baixa temperatura, quando isolados – o nervo da artista levou-a à escrita de canções em forma de bofetada. Já não era possível ser óbvia e tudo era produto multifacetado. Vai de estragar a espera aos que ainda a lembravam como Sugarcube e desbravar diferentes caminhos num único disco. Reformulando a frase inicial deste Parágrafo: apostar na facilidade que foi fazer Post é um erro mas confirmar, e de que maneira, que foi um brilhante segundo passo nas coisas dos longa-duração em nome próprio, quanto a isso arriscamos usar a palavra inescapável.

Voltar ao “multifacetado” para dizer que tal palavrão aqui não significa complexo. Camada após camada, tudo chegava ao lado de cá com uma imediatez impossível. Um caos de acontecimentos ordenados como tantos tentam e quase nenhum consegue. Post fez dançar mas só depois de dizer que a melancolia podia ter ritmo; era pop nascia em Tin Pan Alley mas capaz de despedir a elegância sem justa causa se o feitio da protagonista assim o desejasse; era trip hop sem o ser, que luminosidade deste calibre não se dá com um carimbo que não sabe vestir mais do que negro; foi industrial mas sem derramar óleo, emocionalmente disfuncional e nós a gostar – pior, a compreender e a dizer “sim, claro que sim”; a destruir estruturas com pedaços de electrónicas vindos de toda a parte (Nellee Hooper, Tricky e Howie B entre os grande culpados).

Post cansa mas sem suor. Um álbum cheio, com desvios e contracurvas, mas nascido da génese da música popular: comunicar com quem a ouça e estabelecer relações imediatas. Daqui para a frente, Bjork nunca mais parou de desafiar as suas próprias dúvidas, destemida e crente na sua eficácia enquanto descodificadora das possibilidades que lhe foram aparecendo pela frente. Mas, e apesar de um caminho inovador sem pausas, volta a Post soa sempre a encontro com a modernidade, um quotidiano que ainda não chegou mas que Bjork trata por tu, com espírito de boa vizinhança.