domingo, setembro 11, 2011

11 de Setembro - perspectivas (1)


Perspectivas sobre um dia que ninguém esqueceu para ler ao longo deste dia 11 de Setembro de 2011 no Sound + Vision. Dez anos depois recordamos, a várias vozes, memórias contadas na primeira pessoa... Aqui ficam os três primeiros olhares, assinados por Mário Lopes, Flávio Gonçalves e John Gonçalves.



Mário Lopes
(jornalista do Público)

Um acordar sobressaltado, directamente para a frente da televisão: um prédio em chamas, entrecortado pelo praguejar nos vídeo amadores que captaram o embate. Um segundo avião, dois arranha-céus em chamas. Lembro-me da expressão “guerra em directo” (Iraque e Kuwait, 1991), e de como me soara estranha. A “guerra em directo” eram como imagens de jogo de computador. Intuíamos, sem certezas, que havia gente onde os clarões eclodiam. Aqui não havia guerra, mas víamos mesmo. Gente correndo até ser afogada pelo pó - “a segunda torre ruiu”, gritou o pivot. Nada parecia fazer sentido. Lá como cá: o que julgavam proteger dois polícias junto à embaixada americana em Lisboa, apontando pequenos revólveres aos céus. O mundo mudou nesse dia? Não creio. O tragédia, amplificada por proximidade cultural e pela tremenda transparência das imagens, trouxe caos e confusão mas, à distância de uma década, o seu impacto é simbólico. Permite que perguntemos: “Onde estavas?” E eu, que não acredito que o mundo tenha mudado nesse dia, respondo sem precisar de pensar.


Flávio Gonçalves
(jornalista do DN e autor do blogue O Sétimo Continente)

Tinha nove anos e relembro aquele dia a partir do momento em que regressava da casa da minha explicadora no carro do meu pai. Enquanto nos aproximávamos de casa, foi ele quem me contou que algo de muito grave tinha acontecido: um avião colidira contra um prédio. Antes de me contar melhor o que tinha sucedida, eu já olhava para o céu. E o facto de, depois, ter dito que tinha sido nos EUA não tranquilizou nenhum de nós. Quando cheguei a casa, a televisão estava ligada num canal de informação estrangeiro, as imagens repetiam-se, vezes sem conta, e eu olhava aquilo, perante a evidência de não se tinha tratado de um acidente, como se estivesse diante de um filme-catástrofe.


John Gonçalves
(músico dos The Gift)

Apesar de já considerar New York "a minha cidade" a 11 de Setembro de 2001, foi nesta ultima década que a tomei como minha. Para mim o importante da data não são as torres a cair, mas o momento imediatamente a seguir a essa queda.
Enquanto alguma América jurava vinganças e arranjava bodes expiatórios para mais uma guerra, a senhora "New York" - sim gosto de pensar na cidade no feminino - ergueu-se dando uma lição de modernidade, de solidariedade, de humildade, de estilo e de um levantar de cabeça apenas ao alcance dos Grandes. A cidade chorou, secou as lágrimas, sorriu e encheu de beijos e abraços quem tinha que os levar, deu música, esperança e a alegria possível, incluiu quem talvez mais precisasse de inclusão provando que uma metrópole cosmopolita é aberta, liberal, não generaliza e sabe levantar-se de todos os pesadelos, sem juízos de valor.
Quem já passou por New York sentiu nesse dia a cidade débil, fraca e ferida, mas também sabia que lambidas as feridas, New York seguiria o seu caminho, como fez e bem…Tenho pena de não ter estado aí nesse importante dia para receber in loco uma lição de vida da cidade que adoro. Especialmente se chegasse depois das 9:11am…