quarta-feira, setembro 14, 2011

11 de Setembro - Outras perspectivas (2)

Fotos: Romeu Monteiro

E depois do conjunto de memórias na primeira pessoa que lemos no domingo, olhares sobre o 11 de Setembro vindos de outras latitudes. Hoje num ponto de vista que chega de Pittsburgh, nos EUA.
 

Romeu Monteiro
(Pittsburgh, EUA)

Cheguei há cerca de 3 semanas aos EUA e estou há duas em aulas na Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, Pensilvânia. Não me tinha apercebido que iria passar o 10º aniversário do 11 de Setembro aqui até começar a ver mensagens nos autocarros de Pittsburgh que diziam "Never Forget 9-11-01" pelo menos desde o início de Setembro (os autocarros anunciam alternadamente nos sinais luminosos o nº e destino do autocarro assim como uma mensagem). Os atentados impressionaram-me bastante e sempre tive interesse neles. Creio que constituem o acontecimento internacional mais marcante nestes 22 anos da minha vida. Estando em Pittsburgh por esta altura é algo estranho ter tanta facilidade em chegar aos locais das celebrações do 11 de Setembro: existe um comboio directo de Pittsburgh para Nova Iorque, Washington D.C. fica a duas horas de carro e Shanksville (onde se despenhou o 4º avião, aquele que nunca chegou a atingir o alvo) fica a pouco mais de 120 kms. Cheguei a ponderar ir a Nova Iorque para assistir às cerimónias, para decidi não o fazer.

Nestes dias o aparato de segurança tem sido elevado e existe uma ameaça credível de terrorismo, segundo as fontes oficiais. Recomendaram-nos que estivéssemos mais alerta à medida que o fim-de-semana do 10º aniversário se aproximava, especialmente nas cidades de Nova Iorque e Washington. Como esta semana foram presos terroristas que estariam a confeccionar bombas e a preparar atentados tanto em Berlim (Alemanha) como em Gotemburgo (Suécia), temi que algo fosse acontecer também aqui nos EUA. No momento em que escrevo estas linhas estamos quase no fim do dia 11 de Setembro e nada aconteceu. Parece que estamos safos, mas não dá ainda para ter certezas...



Na Universidade onde estou a estudar realizou-se hoje uma cerimónia de comemoração do 10º aniversário dos atentados. Em todo o campus as bandeiras estavam a meia-haste. A cerimónia foi curta, cerca de 30 minutos. O coro de alunos, assim como uma banda, interpretaram algumas peças que foram intercaladas com pequenos discursos de alunos e as palavras do reitor. O clima era pesado, notava-se um grande silêncio do público em todos os momentos. O reitor da Universidade destacou o 10º aniversário como o momento em que a América deve reflectir sobre o que aconteceu e o que mudou nos últimos dez anos. Relembrou a união e o espírito de entreajuda da comunidade académica no 11 de Setembro e nos tempos que se seguiram. Também destacou a diversidade como algo que esta Universidade tem orgulho em acolher (a Carnegie Mellon tem um campus a funcionar no Médio Oriente, mais concretamente no Quatar, por exemplo) e das dificuldades que alguns alunos estrangeiros passaram a ter para conseguir vistos para os EUA, após a América se ter virado sobretudo para dentro, e fechado ao exterior.


Fomos levados em seguida ao memorial e à árvore plantada em Outubro de 2001 em memória dos sete ex-alunos que perderam a vida nos atentados, onde fizemos um minuto de silêncio. De seguida um grupo de militares retirou a bandeira dos EUA que estava a meia-haste e levou-a. O mastro principal da Universidade ficou sem bandeira e, enquanto lá estive, não voltou a ser colocada. Regressei à árvore e memorial aos sete ex-alunos para tirar uma foto. Para minha surpresa acabei por incluir na foto duas alunas muçulmanas que aproveitavam para observar o memorial de perto. É um simbolismo interessante. É a minha foto do 11 de Setembro de 2011.