quinta-feira, agosto 04, 2011
Onde anda o sonho?
Criado em inícios dos anos 40 com um evidente papel de afirmação de uma ideia de patriotismo, o Capitão América foi o primeiro dos super-heróis da Marvel a chegar ao cinema, num serial estreado em 1944 e do qual nasceram 15 episódios. Regressou ao grande ecrã nos anos 70 num filme turco e, em inícios dos noventas, numa adaptação que seguiu directamente para vídeo em inúmeros mercados. Agora, em tempo de fartura (que é sinónimo de excesso de oferta, mas pode sugerir também o facto de haver quem esteja já fartinho da coisa) de filmes com super-heróis, não podia faltar...
Com o título Capitão América – O Primeiro Vingador, o filme na verdade mais parece um trailer gigantesco para aquele cujas primeiras imagens vemos no final... Uma sequela, e com uma mão cheia de outros mais super-heróis, já com estreia apontada a 2012...
Assinado por Joe Johnston (que em tempos realizou As Aventuras de Rocketeer), o filme tenta até, nas sequências iniciais, uma ideia de exploração do contexto de época em que o herói é criado. Pede emprestado o clima Salteadores da Arca Perdida a uma cena com vilão nazi em busca de relíquia mítica, olha o clima de uma América em tempo de guerra e de desafio aos seus jovens para se alistarem. Chega até a surpreender quando olha uma ideia de tecnologia retro-futurista nos laboratórios onde “maus” e “bons” ensaiam os seus trunfos... Mas depois toma vitaminas a mais e, em vez de ganhar corpo, implode.
Sem vontade de olhar (ou de deixar olhar), usa por vezes um ritmo de montagem que mais parece coisa de trailer. E toma os sabores do momento, do 3D ao digital, como eventual trunfo, talvez ciente da dieta de ideias que depois cruza a narrativa e a própria caracterização das personagens. E é possível dar alma a figuras nascidas como, por exemplo, Tim Burton tão bem nos mostrou nos seus filmes Batman, com Jack Nicholson ou Danny DeVito a vestirem dois vilões que vão bem para lá do superficial contorno a lápis com que aqui todos desfilam.
Aos 70 anos, o Capitão América, agora com ajuda digital e em 3D (desde que com os óculos da praxe) ainda veste as cores da bandeira e dá pancada que se farta aos inimigos. Mas o sonho (americano) que defende por um lado aqui não parece mais senão um objectivo de videojogo. E por outro, vendo as notícias de um país em que o confronto político mais se assemelha a uma agenda de gente a tentar derrubar um Presidente que a lutar pelas causas comuns (veja-se o caso da negociação da dívida pública), esse velho "sonho" é coisa que por vezes parece mais pesadelo que aquele idílio que, décadas a fio, alimentou tantos livros, filmes e canções, com uma mensagem de optimismo que já soube fazer acreditar, mesmo os mais descrentes, que um belo futuro era coisa possível.