Brian Eno + Rick Holland
"Drums Between The Bells"
Warp Records
4 / 5
Não deixa de ser estranho que alguém que criou discos absolutamente magníficos como Here Come The Warm Jets ou Another Green World e temas perfeitos como By This River ou This, não tenha a canção (e a ideia de trabalhar com letras cantadas) entre os acepipes que mais aprecia. Na verdade, um olhar pela sua discografia em nome próprio (e são já 28 anos de discos desde que, em 1973, se afastou dos Roxy Music) mostra mais frequentes títulos instrumentais que registos feitos de canções. E na hora de assinar colaborações, e muitas co-protagonizou ao longo dos anos, mais foram também os discos sem voz que os cantados. Porém, a somar aos seus absolutamente recomendáveis álbuns vocais – Here Come The Warm Jets (1973), Taking Tiger Mountain (by Strategy) (1974), Another Green World (1975), Before and After Science (1977), Another Day On Earth (2005), isto sem contar o mítico, e nunca editado, My Squelchy Life, de 1991 – a sua obra em colaborações conta momentos igualmente magníficos talhados em volta de canções ora com John Cale em Wrong Way Up (1990) ou David Byrne em Everything That Happens Will Happen Today (2008). Drums Between The Bells é mais um disco de colaboração (dividindo protagonismo criativo com o poeta Rick Holland), e ao mesmo tempo mais um álbum em que a voz surge destacada. Porém, fugindo ao que parece muitas vezes ser norma, Brian Eno opta por usar a voz falada (em lugar do canto), procurando, à sua presença (em algumas faixas), juntar a contribuição de não-cantores (ou seja, vozes não profissionais). Musicalmente o álbum reflecte a presença de formas que Brian Eno visitou em diferentes etapas da sua discografia. Não que corresponda a uma qualquer agenda retrospectiva, mas a verdade é que vamos das guitarras às electrónicas, dos poemas texturais a temas onde grelhas rítmicas sugerem outra geometria menos paisagista. Da diversidade de caminhos nasce contudo um álbum onde as marcas de identidade de Eno são bem evidentes. Não repete a excelência da recente parceria com David Byrne em Everything That Happens Will Happen Today, mas é um dos seus melhores álbuns após a entrada no novo século.