MARK ROTHKO Sem título, 1953 |
Um dos fenómenos mais desconcertantes do futebol, e em torno do futebol, é a banalização social do seu dinheiro. Vivemos mesmo num país em que muitas vozes se levantam, ciclicamente, contra o dinheiro que se gasta, por exemplo, para fazer filmes... E ninguém diz nada sobre o dinheiro que circula pelo futebol.
Agora, por exemplo (e é apenas um exemplo entre muitos possíveis): ficamos a saber que o Sporting (e é apenas um clube entre outros possíveis) gastou 8,85 milhões de euros naquela que é a "contratação mais cara" da sua história. E a pergunta não é de onde vem o dinheiro ou quanto ele vai render (provavelmente haverá até, nesta história, sucedâneos economicamente interessantes). A pergunta é outra: porque é que os valores financeiros das práticas artísticas mobilizam a indignação moral dos puristas deste país e face ao futebol... todos se calam?
A questão, repare-se, não envolve nenhum idealismo pueril (do género: o futebol é "caro" e a arte é "barata"). Nada disso. A questão decorre do entorpecimento crítico do tecido social e do pensamento mediático. Ou seja: o dinheiro da arte é sempre dramático e polémico, mas o dinheiro do futebol é sempre festivo e neutro... Porquê?