quinta-feira, agosto 11, 2011
Como tudo começou
Quando as sagas ganham fôlego e dimensão acontece por vezes que, em vez de mis uma sequela, há quem opte por regressar atrás no tempo e contar, afinal, como foi que tudo começou. JJ Abrams optou por esta visão quando, ainda recentemente, reactivou Star Trek (e com bons resultados). Agora semelhante programa é aplicado a O Planeta doa Macacos. E, na verdade, como resultados algo surpreendentes, num filme assinado por Rupert Wyatt que em nada se compara com a desilusão que foi o remake de Tim Burton de há uns anos atrás.
Estamos então algures em San Francisco no tempo presente, nos laboratórios de uma empresa farmacêutica onde um jovem ensaia um vírus que poderá ajudar a vencer a doença de Alzheimer... Testa macacos, mede impressionantes resultados de evolução cognitiva, mas uma das cobaias foge e faz o espalhafato onde menos devia: numa reunião que decidiria o financiamento de nova etapa do projecto... Em vez de mais dólares, da reunião sai ordem para abater os macacos. Mas um dos elementos da equipa não consegue resistir a um chimpanzé recém nascido. E o jovem cientista líder do projecto (interpretado por James Franco) tropeça na ética e leva-o para casa. Aí, reparando o ineditismo da velocidade de aprendizagem (compreendendo que Cesar, o chimpanzé, recebera da mãe o vírus que ensaiava), resolve continuar a experiência. Trata Cesar como um filho, o pequeno chimpanzé crescendo ciente de que é diferente dos filhos dos vizinhos... Um dia, para defender o “avô” de um vizinho com ares de justiceiro de bairro, ataca-o. Acaba numa instituição que recolhe símios. Aprofunda a revolta que sente em si... Claramente inteligente, sabe o que tem a fazer para alargar as suas fileiras. E inicia uma revolução. Ao mesmo tempo que, no mundo dos homens, o vírus (que entretanto saíu do laboratório), revela efeitos devastadores.
A narrativa peca pela ingenuidade de quem pensa que algum laboratório testa vírus sem as devidas condições de isolamento e segurança. Ou seja, num mundo “real” o vírus só muito dificilmente sairia dali para fora... O resto da construção é contudo sólida, ensaiando não apenas olhar para a relação que o homem tem com os símios (de cobaias em experiências a seres em exposição no jardim zoológico), como junta depois argumentos como o medo da “contaminação” ou a ganância de quem olha aos lucros antes de acautelar medidas de segurança. E, acima de tudo isto, a ética que deve regir as fronteiras entre o que é uma investigação científica e o mundo à sua volta.
Os macacos são mesmo os reis da festa. Andy Sekis cria um Cesar que é o claro protagonista do filme. A seu lado os humanos pouco maios acrescentando que os condimentos necessários para fazer avançar a história. Sem o aparato de efeitos da visão de Tim Burton, mas sabendo usar aqueles de que precisa, sobretudo nas sequências da revolta, O Planeta dos Macacos: A Origem, não chega nunca aos calcanhares do filme original, de 1968. Mas consegue superar a desilusão de muitos outros episódios da série e garante um renascimento viável a esta saga simiesca.
Imagens do trailer de O Planeta dos Macacos: A Origem