1. Espantosa primeira página do jornal The Guardian, destacando a vaga de violência nas ruas de Londres. Em baixo, perturbante imagem de Tom Cruise, uma das primeiras de Mission Impossible: Ghost Protocol, divulgada no mesmo dia em que surgiu aquela que o jornal reproduz.
2. Subitamente, percebemos, em movimento, uma das regras mais perversas (e também mais universais) da iconografia do nosso mundo: as imagens são totalmente alheias uma à outra, quanto mais não seja porque exprimem a clivagem entre a "ficção" (jubilatória) e a "realidade" (assustadora); e, no entanto, falam uma com a outra, envolvendo-se na diferença dos seus factores inconciliáveis.
3. Porque é que as imagens apelam ao simbolismo? Porque é que os homens de capuz deixaram de ser apenas personagens que se protegem (da chuva, do frio, etc.), para emergirem como símbolos de uma diferença enquistada no seu próprio silêncio? Em boa verdade, só temos uma certeza: ambos são o espelho ambíguo de uma solidão radical, indecifrável, que os destaca do mesmo fogo do fundo. E é essa solidão que nos mobiliza o olhar.