Destroyer
“Kaputt”
Merge
5 / 5
A voracidade com que muitas vezes consumimos hoje a novidade faz com que, por vezes, passemos a leste de momentos que não nos despertam a atenção imediata... Nada como, por vezes, deixar passar um tempo. Pelo que o momento do lançamento local de Kaputt pode ser o instante para regressar a um disco que, lançado em inícios do ano, vai ainda bem a tempo de acabar reconhecido como uma das pérolas maiores de 2011. Este é o mais recente disco de Destroyer, o projecto pessoal do canadiano Daniel Bejar (desde há alguns anos um elemento-chave no corpo dos New Pornographers). O disco eleva a um patamar de excelência a demanda de uma linguagem pessoal que, disco após disco, Bejar tem procurado talhar não apenas na composição como na escrita de palavras que sustentam olhares que ligam factos concretos do mundo a todo um quadro de reflexões. Em Kaputt Bejar dá-nos um conciso, mas intenso, ciclo de canções no qual cruza a elegância de uma pop que evoca o requinte das formas de uns Roxy Music de finais de 70 e inícios de 80 (entre Manifesto e Flesh & Blood, portanto) e o discreto travo jazzy de uns Steely Dan. A composição entende contudo um sentido de espaço que transcende por vezes a lógica mais fechada da canção pop e, como podemos constatar em Suicide Demo For Kara walker ou no extenso Bay Of Pigs, junta à “narrativa” uma série de planos adicionais que somam uma dimensão de horizontes mais vastos. As ferramentas texturais mais características da música ambiental mostram então nesses instantes como as heranças mais remotas de um Brian Eno ou as mais recentes viagens prog de uns Air podem representar novos pontos de partida para instantes que libertam a canção rumo a novos sentidos. Electrónicas e todo um quadro de instrumentos, uma política de música pela música, uma voz que se sabe fazer escutar e uma belíssima colecções fazem assim de Kaputt um dos mais belos discos que 2011 nos deu a escutar. Quem disse que a pop não tem novidades para nos contar?