Baby Dee
“Regifted Light”
Drag City
4 / 5
É certo que é um nome que pode ter, até aqui, passado bem ao lado das atenções de muitos. Mas quem, por exemplo, viu o filme Morrer Como Um Homem, de João Pedro Rodrigues, já se cruzou com a sua música (em concreto com a canção Calvary, que tomava importante protagonismo num longo plano sequência do filme). Regifted Light é o seu quinto álbum de originais (sexto, se aos discos quisermos juntar o disco-livro A Book of Songs for Anne Marie). A cantora, nascida nos anos 50 e com carreira que a levou já a colaborações, entre outros, com nomes como os de Antony and The Johnsons, Current 93 ou Marc Almond, alcança, neste seu novo álbum, um outro patamar para uma música sempre nascida de marcas evidentes de forte personalidade. Mais que nunca a música surge vibrante nesses traços de identidade, mas desta feita sob um relativamente minimalista recurso de elementos cénicos, o mais central (e notório) dos instrumentos em cena sendo um piano Steinway que chega mesmo a ocupar o protagonismo de grande parte dos temas de um disco mais feito de temas instrumentais que de canções. Regifted Light é como um ciclo que define um arco de acontecimentos que ora toma a voz do piano ou a de Baby Dee (mais pontuais outros instrumentos, como um violoncelo ou um glockenspiel) para desenhar um espaço firme e claro nas formas, frágil e discreto nos jogos de emoções que brotam das composições. Regifted Light junta assim as canções de alma algo teatral que já conhecíamos de obras anteriores da cantora com uma dimensão emocional amplificada pelos espaços instrumentais, da soma afirmando-se um alinhamento que sugere claramente o que deverá ser um programa de concerto que valia a pena trazer a estas latitudes.