quarta-feira, julho 27, 2011

A mercantilização de Sónia Brazão


A devoração pública de Sónia Brazão tem qualquer coisa de ritual sadomasoquista. Depois do primeiro massacre a que foi sujeita a sua história ("coma", "suicídio", etc., etc.. etc.), reencontramo-la agora como mero peão de um xadrez de obscenidades especulativas ("milagre", "felicidade", etc., etc., etc.). Com a vida humana reduzida a banal objecto da mercantilização, factos, afectos e emoções são tratados como dejectos mediáticos. E em absoluta igualdade com as peripécias das telenovelas.
Há um outro nome para isto tudo: a lenta agonia do jornalismo, aliás todos os dias sancionada e ampliada pelos espaços de discussão (?) em que muitos internautas se limitam a prolongar a grosseria de tão metódica e violenta desumanização dos nossos olhares e pensamentos.
Quando se enfrentará e avaliará também a responsabilidade deste universo na (de)formação dos cidadãos? Ou ainda: que é preciso acontecer para que se reconheça que a célebre comunicação social — sublinho: social — é a questão política central do nosso mundo?