Qual é o tamanho do mundo? Infinito e gelado como uma galáxia distante? Ou fechado e quente como as entranhas arfantes de um peixe a morrer nas bancas do Mercado Vermelho, em Macau?
Alvorada Vermelha, de João Rui Guerra da Mata e João Pedro Rodrigues ("Curtas" Vila do Conde - Panorama Nacional), é o filme dessas perguntas. Vemos as aves e os peixes serem abatidos, esventrados, cortados, vendidos, transfigurados num calvário de tripas e sangue que tende para uma cruel abstracção. Tão longe, tão próximo.
Como classificar este quase-documentário que se vai transfigurando num ritual de vida e morte, sereno e indecifrável? Como falar desta Ásia tão próxima, e tão irremediavelmente estrangeira? Digamos apenas que continua a haver no cinema português uma arte muito nobre de intensificar o real até o fixar como uma evidência quase religiosa. Mesmo quando Deus decide sacrificar as suas criaturas.