Continuamos a publicação da versão integral de uma entrevista com James Blake
que serviu de base ao artigo “Um músico solitário frente a multidões”
que foi publicado na edição de 16 de Julho do DN Gente.
Estudou piano antes de experimentar os caminhos que o levaram a encontrar a sua “voz” na música...
Tive lições de piano mas não fui a uma escola de música. Estiva numa escola normal, estudei numa universidade que não tinha nada de diferente a não ser mais geografia e humanidades e o que se passava era que eu estava a estudar música. As lições que aprendemos quando estudamos piano clássico ensinam-nos normas que podemos usar depois em muitas situações. É como se fosse uma teoria. É o DNA da música e é importante conhecer essas coisas porque são ideias que podemos depois usar ou simplesmente não usar. São ensinamentos muito válidos. São mesmo como tijolos que nos podem ajudar a ser ainda mais criativos... Porque adquirimos um vocabulário muito rico. Aprender num sistema de ensino clássico não quer dizer que depois não se possa ser criativo. Muitas pessoas que estudaram música ficam com algo mais que os outros porque adquirem outras maneiras de ver as coisas. Não que as faça superiores ao que quer que seja, é apenas algo diferente na forma de ver as coisas. Na verdade por vezes até encontramos pessoas que estudaram música clássica que desejariam que pudessem ver a música como o faziam antes de ter aprendido. Mas eu não sinto isso dessa maneira.
A descoberta do dubstep e outras formas foi tão importe para si como foi a música de um Debussy?
O piano foi mais importante. Foi sempre o elemento mais importante.
Daí o facto de ter dado a um EP um título muito habitual em peças para piano na área da música clássica [em concreto o EP Kavierwerke, de 2010]?
É o meu disco preferido...
Como descreveria o processo que o conduziu a uma “voz” tão pessoal no actual panorama musical?
Não descobri apenas o meu som nos dois anos que estive a produzir. Aprendi também a produzir. Senti que o processo de estar no escuro, sem saber o que fazer, acaba por ser o mais indicado quando queremos que surjam ideias. Porque assim estão não adulteradas por qualquer processo já existente. São ideias que assim sendo surgem como se do nada. Frescas e muitas... E mais orientadas segundo os meios de produção. Na verdade estou sempre a mudar o meu modo de trabalhar porque nunca estou no mesmo sítio. Se me aborreço as ideias acabam menos espontâneas e menos entusiasmantes.
(continua)