domingo, julho 10, 2011

"Curtas" — o público, os públicos


Até ao dia 17 de Julho, decorre em Vila do Conde o "Curtas", um festival que se mantém fiel ao domínio das curtas-metragens, mas que tem sabido abrir-se a uma estimulante diversidade — este texto foi publicado no Diário de Notícias (9 de Julho), com o título 'Que públicos podem existir?'

Quase a completar duas décadas de existência (a edição nº 20 ocorrerá em 2012), o "Curtas" de Vila do Conde tem-se afirmado no contexto português e internacional como um caso modelar. Desde logo, na agilidade do conceito que o sustenta: privilegiar as curtas-metragens, abrindo espaços cada vez mais diversificados (filmes de outras durações, exposições, concertos, etc.) para a coexistência do cinema com outras linguagens, em particular através das ramificações das novas tecnologias. E depois na prática: mantendo uma organização eficaz e um público fiel (tudo valorizado nos últimos anos pela reabertura do belo edifício do Teatro Municipal da cidade).
O festival [que começou no dia 9] parece apostar, por isso mesmo, numa matriz de programação já consagrada em anos anteriores. Dos nomes da competição internacional (Spike Jonze é um destaque óbvio, bem como o sempre imprevisível Nicolas Provost) até à diversidade dos títulos nacionais (atenção à curta de Manoel de Oliveira sobre os Painéis de São Vicente de Fora), a programação investe numa multiplicidade tão didáctica quanto tentadora. Sem esquecer os cruzamentos com a música (o filme-concerto é um modelo que se confirma) e as artes plásticas e performativas.
Em última instância, aquilo que está em jogo é a própria diversidade do público potencial. Porque, não tenhamos ilusões, vivemos no interior de uma cultura medíocre (predominantemente televisiva) todos os dias empenhada em massificar e formatar os consumos audiovisuais. Eventos como o "Curtas" enraízam-se, antes de tudo o mais, na certeza de que é preciso usar o plural da palavra (públicos) e acreditar que existem, ou podem existir, novos espectadores. Eles andam por aí. Em boa verdade, somos nós.