sábado, junho 11, 2011

Ténis em Roland Garros: a excelência televisiva

Federer/Nadal - a final de 2011

O ténis televisivo continua a ter momentos de grande sofisticação — este texto faz parte de uma crónica de televisão publicada no Diário de Notícias (10 de Junho).
Tal como aconteceu com o futebol, o tratamento televisivo do ténis evoluiu para uma crescente sofisticação. Ao longo de cada temporada, há momentos de eleição em que a qualidade dos intervenientes se conjuga com a excelência do trabalho de realização. O torneio de Roland Garros, em Paris, é um desses momentos, este ano coroado com duas finais emocionantes: na competição feminina, Li Na (China) venceu Francesca Schiavone (Itália), enquanto Rafael Nadal (Espanha) recuperou o título masculino, batendo Roger Federer (Suíça).
Acima de tudo, o ténis consegue preservar dois valores preciosos que, de um modo geral, as televisões abominam. A saber: o prazer da contemplação e a sua esplendorosa expressão narrativa, isto é, a lentidão. Trata-se de uma ética do espectáculo que respeita as durações específicas do jogo e até o recato que a sua prática implica (a certa altura, na final feminina, foi mesmo pedido ao público que controlasse o entusiasmo e mantivesse silêncio durante a disputa dos pontos).
Um dos aspectos mais curiosos das emissões de Roland Garros (Eurosport) foi a requintada utilização dos efeitos de sobreposição de imagens, em particular entre serviços e nos períodos de descanso dos atletas. Recuperando uma estética fortemente enraizada no classicismo cinematográfico (lembremos alguns filmes de George Stevens como Shane [ver video] ou A Maior História de Todos os Tempos), a televisão supera, assim, a rotina da mera colagem de fragmentos curtos: somos envolvidos num tempo pleno de contrastes em que sabe bem experimentar as diferenças entre quietude e aceleração. Uma boa lição para as histerias da “velocidade” informativa.

>>> Um exemplo clássico de uma sobreposição de imagens em Shane: a entrada de Jack Palance no saloon é resolvida com uma súbita fusão, amputando a continuidade do movimento; pode-se especular a sobre o facto de se tratar de uma resolução ágil de algum erro técnico, mas o certo é que a fusão instala um elemento novo, reforçando o carácter imponderável e ameaçador da figura.