De que falamos quando falamos de guerra?
Ou que mostramos para mostrar a guerra?
Ou ainda: que visão da guerra elaboramos quando mostramos aquilo que dizemos ser a guerra?
Matar para Viver (título original: Essential Killing — trailer em baixo) é menos um filme sobre a guerra e mais um exercício de purificação face às imagens da guerra que nos dão a consumir. Não é simples lidar com ele porque o realizador, Jerzy Skolimowski, recusa qualquer rótulo apaziguador. É certo que, de um lado, temos um homem de nome Mahommed (Vincent Gallo) e, do outro, os soldados americanos que o perseguem. Além do mais, as paisagens iniciais suscitam inevitáveis associações "geográficas" com o Afeganistão, talvez o Iraque... Mas tudo evolui como se a história fosse, não um contexto, mas um ponto de fuga. Como se, enfim, fosse possível limpar o olhar de todos os rótulos, maniqueísmos e moralismos que, todos os dias, a televisão injecta no mundo.
Dito de outro modo: descobrimos que olhar esse mundo é um acto imbuído de uma profunda solidão. E não é fácil lidar com isso. Os grandes filmes são assim — abrem as paisagens da incerteza e da ambiguidade. Fácil é o telejornal.