domingo, maio 22, 2011

A psicologia da música


Obras de Tchaikovsky e Liszt, no primeiro disco com orquestra da pianista Alice Sara Ott, novamente pela Deutsche Grammophon.

Depois de dois primeiros discos na Deutsche Grammophon com obras instrumentais de Chopin e Lizst, aos 22 anos a jovem pianista germano-japonesa Alice Sara Ott estreia-se numa gravação orquestral, ao lado da Müncher Philharmoniker, dirigida por Thomas Hengelbrock, com os concertos para piano nº 1 de Tchaikovsky e Liszt. A primeira (de 1875), sobretudo, é uma obra há muito com dimensão global, uma das mais célebres do repertório para piano e orquestra, justificando a pianista a escolha por várias razões, do facto de ser uma peça com a qual tem já uma relação de palco de alguns anos, a características da sua escrita nas quais reconhece marcas da personalidade do compositor. Além de destacar as qualidades musicais de uma obra que assimila, a dados instantes, ecos da folk ucraniana, a pianista destaca no concerto o que reconhece serem as “muitas facetas da vida” e, como ainda explica, no texto que acompanha o booklet, ali escuta elementos que sublinham o “carácter contraditório” do compositor e o que diz serem os seus “complexos” eventualmente gerados pela sua sexualidade. Entre os três andamentos do Concerto para Piano Nº 1 de Tchaikovski escuta assim aos vários estados de alma da personalidade do compositor russo: “cândido, irónico, feliz, optimista e, numa escrita melódica saudosa, deprimente”. Da música de Liszt, que também leva ao palco desde há já alguns anos, diz admirar a maturidade do design formal da obra. A pianista defende ainda que para si é importante tentar descobrir o compositor como pessoa, escutando assim a psicologia de quem compôs a música que interpreta. “Nem sempre é fácil estabelecer uma ligação com o que o músico queria. Mas nós, músicos, somos, afinal, nada mais senão os embaixadores dos compositores. Pelo que temos que comunicar a uma plateia aquilo que eles tinham para dizer”. E remata acrescentando que, para si, a “música é uma força que deixa as pessoas completamente expostas. Revela sentimentos, mas sem os manipular”.



Imagens de um excerto da interpretação, pela pianista, do primeiro andamento do Concerto para Piano nº 1 de Tchaikovski.