Será, por certo, por afinidades nacionais e culturais: o pianista polaco Piotr Anderszewski mostrou uma relação de ágil intimidade com as Mazurkas de Chopin que, inclusivamente, lhe permitiu sem esforço (nem escândalo) passar incólume para a Suite Inglesa nº 6, de Bach, contornando a hipótese das palmas, celebrando um fraseado tecido de precisão e discreto fulgor. Foi assim a segunda parte de um concerto no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian [8 de Maio] que começara também com Bach, Suite Francesa nº 5, fechando a primeira parte com Schumann e os seus Seis estudos em cânone, para piano com pedaleira, op. 56 (transcriação do próprio Anderszewski).
Piotr Anderszewski submete o piano a uma contenção pudica, paradoxalmente agressiva, como se se tratasse de testar os limites expressivos de cada peça — há nele uma espécie de minimalismo privado, fazendo da própria interpretação uma arte de retirar todos os excessos. Estivera entre nós no Festival de Cinema do Estoril [Nov. 2010]; regressou agora para esta prova de serena maturidade.
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