1. Na sua admirável contundência, a capa da revista
Time (número especial anunciado para quinta-feira, dia
5 de Maio) condensa as questões iconográficas — logo,
inevitavelmente políticas — que emergem com a
morte de Osama Bin Laden. Ou seja: como mostrar, expor e enquadrar a sua imagem? Aliás: as suas imagens?
2. É uma capa de ambivalência perturbante, porventura a ponto de a sua perturbação interior não ter sido capaz de pensar todas as nuances da duplicidade que nela se expõe: por um lado, actua directamente sobre a imagem, rasurando-a, isto é, triunfando sobre aquilo que nela se representa; por outro lado, representando-o numa paisagem sem espessura geográfica ou conceptual (o fundo branco) remete a figura para uma no man's land a que, no plano informativo, falta alguma acutilância simbólica e precisão política.
3. Mas como escapar a tais dificuldades? Não terá sido por acaso que o desafio implícito no gesto da Time foi mesmo secundarizado por muitos jornais (cinco exemplos a seguir) que preferiram dar a ver esquemas da missão que matou Bin Laden ou ecos da sua morte. Dir-se-ia que emerge, assim, a encruzilhada de qualquer visão humanista: como representar aquele que agride a própria dignidade do factor humano? Escusado será dizer que tal dúvida não poderá deixar de marcar os próximos tempos da vida das imagens e, sobretudo, as nossas relações através das imagens.