domingo, maio 15, 2011

O fim do mundo, segundo Gregg Araki


Tem hoje primeira projecção nacional no dia de encerramento do IndieLisboa (passa no São Jorge às 19.15), vai ter uma semana de exibição em sala e, logo a seguir, surge em DVD. Trata-se de Kaboom, a mais recente longa-metragem de Gregg Araki, um dos nomes “fundadores” do chamado new queer cinema de quem, entre nós, só foi estreado Mysterious Skin (título português Pele Misteriosa), o mercado nacional de DVD tendo entretanto recebido também a sua marcante primeira longa, The Living End (1992), que então apresentava como “um filme irresponsável de Gregg Araki”.

Em Kaboom Araki reencontra uma série de espaços que fizeram algum do seu cinema mais “radical” (ou, antes, provocador) na década de 90. Em concreto filmes como Tottaly Fucked Up (1993), The Doomed Generation (1995) ou Nowhere (1997) – que juntamente constituem a Teenage Apocalypse Trilogy – nos quais juntava olhares e reflexões sobre personagens longe de mainstream, todavia não menos representativas de tipos da juventude americana do seu tempo, com histórias onde ecos do fantástico chocavam (e baralhavam) quaisquer sugestões de realismo que eventualmente pudessem brotar das figuras e narrativas que apresentava. A maior das diferenças face a essas reflexões lo-fi (que ajudaram a vincar o estatuto do realizador norte-americano no espaço de uma nova cinematografia queer independente) afirma-se, neste novo filme, por uma linguagem mais clara e luminosa, fruto em parte de um budget de cinto menos apertado.

Kaboom começa como um college movie, a figura central (que estuda cinema) dando-nos a conhecer o universo ao seu redor, do loiro, aparentemente com mais arrumação no cabelo que nos neurónios, ou uma velha amiga, que tem por namorada o que diz ser uma bruxa com poderes sobre-naturais. É aqui que o ingrediente fantástico começa a temperar o que parecia ser mais uma garrida comédia juvenil, aos poucos ganhando forma o que parece ser um estranho culto oculto, que visa o fim do mundo o estabelecimento de uma nova ordem. Uma espécie de eugenia, mas sem a violência desencantada de um Partículas Elementares de Houellebecq.

O tom evidentemente satírico com que Araki olha, tanto o modelo dos college movies como a própria trama com alma de thriller fantástico série Z, pincela Kaboom com um sabor de paródia que, no fim, garante um sorriso bem humorado onde, tivesse o realizador pretendido levar-se a sério, acabaríamos com a sensação de ter visto um perfeito disparate.



Imagens do trailer de Kaboom