segunda-feira, maio 30, 2011
Novas edições:
Kate Bush, Director's Cut
Kate Bush
“Director’s Cut”
Fish People / EMI Muisc
4 / 5
Folheando o booklet da edição especial (que junta ao novo disco os dois que lhe servem de ponto de partida) cedo encontramos uma foto na qual Kate Bush cita a imagem clássica de Segei Eisenstein olhando, braços abertos, para uma fita de celulóide. Sublinha-se assim o título que, de certa forma, define a abordagem “de autor” a obra já antes conhecida. “Director’s cut” costuma dizer-se no mundo do cinema. Pois seja Director’s Cut também aqui, representando acima de tudo um romper de silêncio seis anos após Aerial, o álbum que, por sua vez, tinha em 2005 terminado com longo hiato na carreira de uma das mais marcantes figuras reveladas em clima pop na Inglaterra de finais dos 80. Na verdade Kate Bush sempre transcendeu as fronteiras da coisa pop e cedo mostrou interesse na exploração de outros caminhos, entre a voz e os arranjos encontrando ferramentas que colocou ao serviço da demarcação de uma linguagem muito pessoal. Mas isso foi nos setentas e nos oitentas. E desde inícios dos noventas pouco mais de si ouvimos contar... E há seis anos Aerial recordou-nos quão profunda era a sua viagem rumo ao talhar de uma voz (senso lato) particular. Director’s Cut não é exactamente uma sequela. Antes um reencontro com os dois álbuns editados entre o clássico Hounds Of Love (1985) e Aerial, abordando-os sob novo olhar, quem sabe se deixando a porta entreaberta agora a passos seguintes, sejam dados sobre um palco ou novamente estúdio adentro... Neste disco Kate Bush regrava a voz, as percussões e repensa a cenografia em torno de uma série de canções originalmente gravadas nos álbuns The Sensual World (1989) e The Red Shoes (1993), discos que na verdade nunca chegaram a conhecer a aclamação (nem o mediatismo). E convenhamos que, na esmagadora maioria das canções do alinhamento, as novas abordagens revelam uma outra forma de encarar as canções. Não substituem as originais (é certo), até porque na edição especial se juntam dois CD extra com os discos como antes os conhecíamos. A versão “de autora” que Kate Bush aqui promove não procura necessariamente por tudo isto o passo adiante de Aerial. Mas mostra como o tempo pode lançar novas visões sobre a memória. Porque, e é verdade, muitas vezes os discos não cristalizam a versão definitiva das canções. Não que estas as sejam. Mas ao menos respiram sinais de uma reflexão posterior que regularmente vemos acontecer em palco. A eventual surpresa de muitos perante o anuncio de um disco de “versões” de canções suas parecia por isso ignorar essa que essa lógica de rever matéria dada é, afinal, uma prática tão frequente em tantos músicos na hora de partir para a estrada. E sem agenda de concertos nos últimos anos, Kate Bush optou antes por registar essa evolução em estúdio. E fez muito bem!