Jamie Woon
“Mirrorwriting”
Polydor / Universal
5 / 5
E que ano está este a ser para quem acredita que, das electrónicas, podem nascer novas ideias para novas canções (na verdade já havia aperitivos, indiciando muitos deles boas novas que, agora se concretizam em pleno)! Primeiro foi James Blake, confirmando num espaço herdado sobre genéticas dubstep (e não só) uma voz criativa que vinha a dar-nos sucessivos cartões de visita em EPs que semearam a curiosidade. Depois Nicholas Jaar, num álbum igualmente capaz de ensaiar caminhos e entre eles encontrar ecos de familiaridade. Brevemente contaremos com Jai Paul, cujo espantoso (e mui recomendável) single BTSTU foi recentemente lançado pela XL Recordings. Mas agora o palco cabe a Jamie Woon. Inglês, pelo seu sangue corre código genético chinês, malaio e escocês, a relação com a música nascendo possivelmente de contactos ao lado da mãe, uma cantora de folk. A sua música corre contudo segundo outros trilhos. Assenta, por um lado, sobre uma decomposição de estruturas rítmicas que, ao longe, sugerem ecos dubstep. Mas, mais marcante ainda, é uma relação com a soul, o encontro sendo promovido sob a presença de electrónicas (frequentemente de alma minimalista), cordas ou a ocasional guitarra, ferramentas suficientes ao serviço não apenas de uma espantosa colecção de canções mas, também, de uma voz capaz de cada uma fazer uma experiência inesquecível. Mirrorwriting é um disco menos assombrado e, por sua vez, mais acessível, que o que escutámos já este ano em álbuns de James Blake e Nicholas Jaar. Ao álbum não faltam episódios de luminosidade, assim como aquelas pérolas que, como escutamos em temas como Night Air, Street ou Shoulda, podem elevar o seu nome a um patamar de maiores ambições (e salas de maior lotação)... Mirrorwriting é um disco feito de climas tranquilos, de linhas sedutoras, de ambientes que envolvem, de canções que cativam. E é desde já mais um sério candidato a morar na tabela dos melhores discos do ano.