Austra
“Feel It Break”
Domino
4 / 5
Estudou ópera, parece interessada nas atmosferas mais sombrias (e muitas vezes associadas aos domínios do gótico) e é com as electrónicas por ferramenta de trabalho que molda as canções de um álbum de estreia que vale a pena ouvir. É canadiana, chama-se Katie Stelmanis, mas na hora de gravar discos responde por Austra, na verdade o seu nome do meio. Em 2010 deu-nos pistas promissoras sobretudo através de Beat In The Pulse, canção que sugere anseios para pista de dança, sem todavia libertar todas as energias em si contidas, acolhendo ecos de uma relação com referências de uma pop electrónica um tanto assombrada que lembra os melhores instantes do álbum de estreia dos Fischerspooner. Feel It Break, o álbum que agora chega aos escaparates mostra que todos os caminhos e interesses que a moldaram acabam de alguma forma por se manifestar, desde uma postura vocal que não esquece a essência de algumas velhas lições a um relacionamento com cores instrumentais mais variadas que, além das electrónicas, integram o piano (no que por vezes estabelece interessante recuperação de linguagens de uma Kate Bush ou Tori Amos). As electrónicas, num regime minimalista e inventivo segundo trilhos com afinidade com os que conhecemos nos suecos The Knife. Sem aparato cénico com mais elementos que os necessários, as canções de Feel It Break assinalam um interessante ponto de reencontro com raízes fulcrais da pop electrónica, ora encontrando ecos remotos nos climas mais tensos dos dias da cold wave (como se escuta num Spellwork) ora experimentando caminhos de diálogo com a vontade de criar uma noção de cenografia que acolhe a escrita, os instrumentos, a voz. Fell It Break é uma pequena montra de canções pop onde as electrónicas encontram um invulgar ponto de diálogo com o lirismo que o piano e o canto podem sugerir. Cumpre a promessa, portanto.