quarta-feira, maio 11, 2011

Indie Lisboa 2011: dia 7


No final da projecção de Attenberg, ontem, no Cienema São Jorge, a realizadora grega Athina Rachel Tsangari recordava que a “notícia” da crise chegou a meio da rodagem do filme. Os dinheiros estatais desapareceram do horizonte. Para o seu e os demais filme gregos, explicou... Não deixou o trabalho a meio. E, com um orçamento contido, levou o barco a bom porto. E ainda bem, mostrando-nos Attenberg interessantes sinais de vida criativa num país de onde as notícias que nos vão chegando têm apontado noutros sentidos...

Rodado numa pequena cidade construída para acolher os operários de uma empresa, o que lhe dá um ar de “ficção científica”, como a própria realizadora descreveu, Attenberg é uma história de revelação e revolta que se projecta sobre um pequeno quarteto de personagens (apenas uma delas vestida por um actor profissional). Um pai em estado avançado de uma doença terminal, uma filha de 23 anos que até então rejeitara qualquer ideia de tocar num outro corpo, a sua amiga (com totalmente oposta relação com os outros) e o primeiro homem com quem se relaciona...

Pensado com uma lógica que parece de canção (há recorrentes sequências das duas amigas, caminhando sobre uma passadeira que podemos entender como se de um refrão se tratasse), e acolhendo na própria narrativa a música de Françoise Hardy e dos Suicide, Attenberg é uma história que nos pede tempo para que lhe possamos dar forma. O sexo e a morte são, segundo a realizadora, os pólos centrais na vida, em volta deles evoluindo os fragmentos de instantes que vamos seguindo. No hospital. Em casa, a ver documentários de David Attenborough, de cujo nome mal pronunciado provém o título do filme e imitando frequentemente os movimentos dos animais). Pelos espaços despidos de ânimo de uma cidade que parece adormecida... Attenberg olha de perto a forma como Marina transpira uma pulsão de revolta que projecta de formas distintas juntos dos que orbitam ao seu redor. No fundo, mostrando leques de comportamento que podemos seguir com a mesma curiosidade com que observamos, sob o olhar de Attenbourough, os espaços e seres que este nos revela nos seus documentários... Naturalmente sem uma agenda científica. Nem política (apesar de reflectir sobre a não autorização local da cremação). Apostando, antes, num gosto muito pessoal pela observação dos lugares, das gentes e das suas atitudes.



Imagens do trailer de Attenberg.