Comentador de Sade e da vida de alguns santos (afinal de contas, foi ele que escreveu um livro chamado Sade, Fourier, Loyola), Roland Barthes escreveu belíssimas páginas sobre a regra e a excepção. E a importância de defendermos a excepção. No limite, lembrava ele, será necessário "defender a excepção dos misticos". Não sei se Terrence Malick aceitará tal caracterização, mas a energia mística do seu The Tree of Life confere-lhe um lugar de absoluta excepção — neste festival, claro, mas em boa verdade na paisagem multifacetada do cinema contemporâneo. Muitíssimo aguardado (especulou-se mesmo sobre a sua presença em Cannes 2010), The Tree of Life é um acontecimento mágico que nos faz mudar de planeta, conseguindo transfigurar um melodrama familiar numa celebração cósmica. Se pode haver filmes que justificam que se diga a um espectador que nunca viu nada assim... este é um desses filmes.