Pop Dell’Arte
“Free Pop”
Ama Romanta + Louie Louie
5 / 5
Depois de uma etapa de afirmação de um espaço de revolução na música pop(ular) portuguesa, que acabou descrito como o “boom do rock português” e de uma primeira ressaca recessiva causada pelo excesso de oferta que se seguiu aos primeiros entusiasmos de 1980/81, o panorama local conheceu uma nova etapa de agitação, desta feita mais rica em ideias que em “êxitos” transversais. Com alguns media como faróis de uma modernidade, o Rock Rendez Vous como palco de protagonismo maior no mapa da revelação e consolidação de talentos e o concurso de Música Moderna ali encenado como janela de oportunidades, uma nova geração entra em cena animada por todo um ideário tão inventivo ao ponto de abrir espaço à afirmação de personalidades demarcadas, firmes na apresentação de uma música não devedora de mimetismos escutados à distância nem seguidora dos sabores da saison. Entram assim em cena nomes como os Mler Ife Dada, Mão Morta ou Pop Dell’Arte, entre os três reconhecendo-se casos de indiscutível peso na definição de episódios centrais na história pop/rock vivida deste lado da fronteira. Dos Pop Dell’Arte acaba de ser reeditado (no quadro do Record Store Day) o álbum de estreia. Originalmente lançado em 1987, Free Pop é um dos discos mais marcantes da história discográfica do Portugal dos oitentas. Cruza a vertigem experimentalista que animava a banda (que mereceu distinção num ‘Prémio de Originalidade do RRV’) com uma vontade em explorar o formato da canção. Usa loops, ensaia poemas fonéticos, ousa formas de comunicação próximas do manifesto... Era já então um disco absolutamente ímpar. Nada de igual se escutara, as marcas da personalidade que definiriam uma das mais importantes obras da música pop/rock made in Portugal conhecendo aqui uma série de reflexões que lançaram ideias que os próprios Pop Dell’Arte tomariam como parte de uma história que, longos anos depois, ainda continuam a escrever. Da abertura surpreendente ao som de Berlioz ao Juramento sem Bandeira (com a colaboração de Adolfo Luxúria Canibal), passando por temas que hoje podemos evocar como clássicos (como Rio Line, Turin Welisa Strada ou Avanti Marinaio), Free Pop é uma brilhante ideia pop. Que agora se reencontra recuperando o grafismo original, num alinhamento que junta ainda os temas Sonhos Pop e Esborre, editados em single pouco tempo antes.