quarta-feira, abril 06, 2011

Novas edições:
Micachu & The Shapes + London Sinfonietta,
Chopped & Screwed


Micachu & The Sapes + London Sinfonietta
“Chopped & Screwed”

Rough Trade

4 / 5


Ainda há poucos dias, a propósito do lançamento de White Wilderness, de John Vanderslice, se reflectia aqui sobre um crescente interesse de músicos oriundos dos espaços pop/rock e afins (e ainda alguém acredita nessas nomenclaturas?) pelas potencialidades que se abrem ao trabalhar como uma Orquestra. E, frisando precisamente uma demanda que não mais se centra na busca de dinâmicas para cordas (e eventualmente metais) no quadro de arranjos das canções, um pouco ao jeito de um programa de pós-produção em cinema, apontava-se não apenas esse recomendável novo disco de John Vanderslice, mas também o notável The Age Of Adz, de Sufjan Stevens ou uma reflexão de Herbert sobre a Sinfonia Nº 10 de Mahler (pensada para a série Re-composed da Deutsche Grammophon), como exemplos de uma nova ordem da qual têm surgido alguns dos mais estimulantes discos dos tempos mais recentes. Agora juntamos a esse lote um outro disco que, mais que quaisquer outros exemplos, eleva a desafios ainda mais ousados a presença de uma orquestra no quadro de uma música que tem, na origem, uma banda. Na verdade, tem na origem uma figura. Trata-se de Mica Levi, tem formação que passa por escolas de música e deu-se a conhecer há perto de dois anos num intrigante (e apelativo) álbum de estreia a que chamou Jewllery, editando-o como Micachu & The Shapes. Ao segundo álbum afasta-se contudo dos espaços de reflexão em redor da canção para, em companhia da London Sinfonietta, apresentar antes em Chopped & Screwed uma sucessão de quadros de desconstrução dos quais nasce uma ideia de música que, mesmo com a canção ainda no horizonte, respira outro patamar de liberdade formal. O trabalho da orquestra molda texturas, encontra a voz, sugere formas, abre caminhos... O título do disco refere em concreto uma técnica de mistura concreta nascida em terreno hip hop nos anos 90 e que visa um desacelerar do tempo... É nesse domínio que evolui a música de Chopped & Screwed, sugerindo um universo de descoberta que, como o que se escutou por exemplo nas Versailles Sessions de um Murcof, intriga, mas desafia e encanta.