sábado, abril 16, 2011
Na juventude de Shostakovich
O maestro russo Vassily Petrenko e a Royal Liverpool Philharmonic Orchestra continuam a dar forma a um ciclo sinfónico dedicado a Shostakovich. Desta vez, e num mesmo disco, as Sinfonias números 1 e 3.
Com impressionante regularidade, ao longo dos últimos meses o maestro que revitalizou a orquestra de Liverpool tem vindo a construir, no catálogo da Naxos, aquela que promete vir a ser mais uma integral de referência da obra sinfónica de Dmitri Shistakovich (1906-1975). Juntamente com as sinfonias de Mahler, as 15 que o compositor russo compôs tornaram-se peças de presença segura nos repertórios sinfónicos, representando os dois compositores dois marcos determinantes da música orquestral do século XX. Com este novo disco recuamos aos inícios de carreira de Shostakovich, a primeira sinfonia revelando ainda as visões de um estudante, a terceira reflectindo um fervor revolucionário que, com o tempo, o compositor acabaria por encarar de outra forma. Estreada em Leninegrado (hoje novamente São Petesburgo) em 1926 (tinha o compositor 19 anos), a Sinfonia Nº 1 nasceu de um exercício académico pedido pelo conservatório. Aclamada logo na estreia, concedendo imediata visibilidade ao compositor, é uma obra que contrasta na orquestração relativamente contida com o fulgor quase mahleriano de outras sinfonias que assinaria mais tarde. Como consequência de ter destruído muitas das suas primeiras composições, esta obra serve de importante retrato das primeiras ideias musicais do jovem compositor. Com o sub-título O 1º de Maio, a Sinfonia Nº 3 teve estreia em 1930. Procurava, como o próprio descreveria, sugerir um tom de “reconstrução pacífica” numa obra com cativantes jogos de contrastes e que inclui a presença de um coro, as palavras sublinhando o texto e contexto de época que cruzam esta música.