sexta-feira, abril 15, 2011
Em conversa: Panda Bear (4/4)
Continuamos a publicação da versão integral de uma entrevista com Panda Bear que serviu de base ao artigo ‘Canções que Moram em Lisboa’, publicada na edição de 9 de Abril do DN Gente.
Como é quando faz a sua música. Fecha-se?
O meu método de trabalho é um pouco como se fizesse testes tentando verificar se as canções me agradam e se resistem… 90 por cento do trabalho que faço numa canção acontece durante a sua mistura. É o tal teste. Se escuto uma canção de 300 a 500 vezes ainda funciona para mim? Se sim então passa o teste e é coisa que vale a pena. Se consegui estar focado nessa canção esse tempo todo e nela ainda encontro algo, então deve ter algum poder..
Este método de editar vários singles antes do álbum, como fez desde o Verão passado, é também uma forma de testar estas canções?
É um pouco… É para tentar que cada canção tenha a sua atenção. Não os faço como singles… Daquela forma… Dou a mesma atenção a cada canção. Tentando que não haja nenhuma que não seja captada. Isto especialmente num disco como este, feito de canções curtas. Queria sentir ondas emocionais cruzando-se por aqui. E a capa original do disco ia inclusivamente reflectir isso mesmo. Mas tudo isto implica um pouco que se escute a música do modo como o faço. Por a música a tocar e fazer outra coisa qualquer é abrasivo. Há algo rigoroso no som. Não é festivo. É algo rígido. É-me difícil de o justificar, porque talvez o criei naquele ambiente, mas sinto-o como algo mais solitário. Algo que, quando se está a ouvir, não se quer ter mais ninguém por perto. É um pouco mais privado que o anterior.
Foi menos lenta a criação de Tomboy (face ao anterior Person Pitch)…
Sim, se bem que haja pessoas que digam que levo eternidades para fazer um disco.
Mas viveram uma digressão extensa com os Animal Collective por alturas do vosso último álbum...
Estivemos na estrada perto de três anos… Durante esse tempo, se bem que em termos muito vagos, já ia pensando em algumas destas canções. O motor emocional das canções, os seus pontos de partida… Pensava muito sobre os instrumentos e sobre a sua estrutura sónica. As partes de guitarra entraram mais no fim. Mas desde o início sabia que não ia usar os samples… Não queria fazer outra vez o mesmo disco. Não queria fazer novas canções que estivessem muito ligadas às velhas canções. Penso que há ligações particulares entre ambos os discos. Mas tenho ouvido as pessoas a dizer coisas completamente díspares. Há quem diga que este soa a algo completamente e quem ache que não…
Tem rotinas de trabalho?
Tenho sim. Com dois filhos, não posso trabalhar à noite. Quando a minha filha chega da escola o trabalho fica parado até à manhã seguinte. Por isso trabalho, naqueles períodos mais sérios, de umas dez às cinco… Muitas vezes nem como nesses período.
Como é que reage, criando canções tão pessoais, quando estas saem finalmente do estúdio? É como um nascimento?
É diferente de um filho. Os filhos estão à minha responsabilidade, ao passo que as canções, assim que passou para o CD e está numa loja e as pessoas as podem comprar sinto que deixaram de ser minhas. A experiência de as fazer e sobretudo aquela sensação de as ouvir duas ou três vezes depois de as ter terminado, isso sinto que é meu e que ninguém tem direito de as levar de mim… Mas depois há a produção em massa, a sua transformação em produto. E isso faz com que me seja mais fácil depois deixá-las ir…
Tocar ao vivo pode prolongar esse estado inicial de relacionamento mais próximo com as canções?
O interessante na performance tem a ver com o momento, que depois se dissipa. Há quem grave os concertos. Há algo incrível nisso. Mas há também algo que não gosto. Porque o que têm de especial desaparece logo que a actuação acaba. Sinto-me sempre estranho ao ouvir gravações de concertos. Com os discos e a partilha de coisas com outras pessoas sinto que as coisas lhes pertencem já mais a elas que a mim. E isso acontece sobretudo com aqueles discos nos quais cada pessoa acrescenta letras suas à canção. Personalizam a canção para ela se encaixar nas suas experiências pessoais. Essas coisas fazem com que me seja fácil libertar-me depois da canções. E também o facto de a minha mente depois se desviar para uma nova ideia. Estive a trabalhar em canções dos Animal Collective nos últimos três meses, embora agora esteja a falar destas canções que estão já fora da minha mente.