Continuamods a publicação da versão integral de uma entrevista com Panda Bear que serviu de base ao artigo ‘Canções que Moram em Lisboa’, publicada na edição de 9 de Abril do DN Gente.
Como foca a sua mente para trabalhar em canções que são para os Animal Collective ou para si?
Costumo saber para onde vai uma canção antes mesmo de começar a trabalhar nela. E tenho de o saber fazer! Se escrevo para mim há questões que têm a ver com a personalidade do som, a noção de espaço, onde não há limites. Mas se estou a fazer uma canção para a banda a minha contribuição tem de ser um quarto ou um terço da canção. O que quer que faça na canção tem de soar a apenas um quarto ou um terço da sua forma final.
É assim tão democrático?
Não é para tentar agradar a todos na banda. É mais para agradar à canção. Para a fazer tão boa quanto o possa ser. Se nem todos estiverem a contribuir em pleno para a canção, se alguém não estiver a investir na canção ela acabará menos forte por causa disso mesmo.
O vosso último álbum, Meriweather Post Pavillion obteve um grau de aclamação global e quase unânime. Como se avança para um outro disco depois de conseguir este tipo de resultados?
Assumi, desde o início, que este próximo seria o disco para ser sovado… Não se pode ter os foguetes e a festa duas vezes de seguida… Não se pode ter tanta sorte muitas vezes.
A dimensão atingida pela banda com os elogios e adesão a esse disco afectou-vos? Como reagiram?
Com uma banda é mais fácil. Há outras pessoas com quem podemos discutir opiniões. E se ficamos numa posição em que nos tornamos muito críticos sobre qualquer coisa ou sentimos alguma estranheza sobre algo, há com quem discutir. Podemos debater. Essa mentalidade de grupo afasta a pressão… Especialmente pelo facto de nos conhecermos há tanto tempo é-nos fácil até brincar com as coisas. Quebra-se o gelo… A solo não há essa zona de segurança, essa folga... Está tudo ali.
Sente-se mais vulnerável?
Completamente. Tudo ecoa na mente. O truque é deixar tudo vir para fora quando se está a trabalhar. Não faz mal estar a pensar nas coisas que quero fazer quando estou a cozinhar o jantar… Se num dia de trabalho encaro algo com um sentido demasiado crítico então tento deixar de pensar dessa forma. O tento fazer algo diferente até que não esteja mais a pensar dessa forma.
Os Animal Collective viraram banda de referência. Como se lida com esse estatuto?
Tento não pensar muito nisso. É um pouco como o que certo tipo de pressão nos pode fazer. Um comentário muito negativo ou um outro, muito favorável, podem amplificar o modo como vemos as coisas e as trabalhamos. Tento manter as distâncias portanto. É uma coisa boa de ouvir, mas não quero sentir que estou a levar essas coisas demasiado a peito. Isso até poderia estar terminado. Todo o tipo de comentários extremados, seja em que sentido forem, tento não lhes dar demasiada atenção.
Pensam no que possa ser a longevidade de uma banda?
Na verdade tenho pensado muito nisso, nos últimos tempos.
Teria sido fácil acabar depois de Meriweather Post Pavillion...
Se tiver de pensar em dez bandas de que goste, em quantas é que eu vejo que foram capazes de manter essa alma bem activa até serem veteranas. Para cada Robert Wyatt há uns 20 mil outros… Tenho pensado muito nisso, sim.
E resolveu então editar mais um disco a solo…
Essa era um pouco a saída mais fácil… Os quatro precisávamos de ter umas conversas bem sérias antes de tomar decisões. Vamos ver… Espero que saibamos reconhecer quando chegar o momento de acabar, se esse momento chegar, pois…
(continua)