terça-feira, abril 12, 2011

Em conversa: Panda Bear (1/4)


Iniciamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Panda Bear que serviu de base ao artigo ‘Canções que Moram em Lisboa’, publicada na edição de 9 de Abril do DN Gente.


Como se ajustou à vida em Lisboa?
Muito bem, mesmo. Estivemos nos Estados Unidos nos últimos três meses e foi a primeira vez que levei toda a minha família comigo para fora de Portugal. Fomos para Baltimore e Nova Iorque de vez em quando. Era Inverno e nas primeiras semanas até apanhámos grandes tempestades de neve. O que foi até engraçado para a minha filha, que adorou. Mas eu já não vivia um Inverno tão frio desde que me tinha mudado para Lisboa. Foi por isso um choque. E ao fim de uma semana estava a contar os dias para regressar. Por isso sei assim que não me quero mudar daqui para fora. A minha mulher gosta de Nova Iorque, até falámos de lá podermos viver... Mas tenho a certeza que não me mudo. Sinto-me bem em Lisboa.

O que tem a cidade que o faz querer ficar?
É difícil explicar. Vai para lá da razão. Muitas vezes falo da primeira vez que cheguei. Quando saí do avião senti algo pacífico. A minha mulher gosta de dizer que fui português numa vida anterior porque gosto tanto de Portugal. E como sou adepto do Benfica ela diz que tinha mesmo de ser português nessa outra vida!

Mesmo sendo este um país vivendo uma profunda crise económica e política?
Mesmo que o país viva uma instabilidade económica sinto-o um país mais tranquilo, mais pacífico, mais confortável que o lugar onde estava na América durante anos.

É um lugar que estimule a sua criatividade? É bom para trabalhar?
Muito. E isso deve muito à logística do meu estilo de vida por cá, ao facto de quase não conhecer ninguém. Não ter muitas responsabilidades do ponto de vista social. De certa maneira sou como um alienígena. Se fosse uma pessoa mais social talvez fosse um sitio menos bom para estar. Mas sempre me senti bem comigo mesmo, sozinho. Por isso é o lugar ideal para trabalhar.

Mudou hábitos de idas a concertos ou de visitas a lojas de discos desde que se mudou dos EUA para Portugal?
Desde que comecei a fazer digressões e a tocar ao vivo, os clubes são o último lugar onde me apetece ir, Se um amigo meu vem a Lisboa ou se um amigo de uma banda local toca, esses são motivos para eu sair. Além disso quase não saio... Forço-me por vezes a sair porque sei que me faz bem. Por vezes fecho-me demasiado e perco-me no meu mundo. Por isso acho que é importante para mim viver numa cidade onde tenha de interagir com outras pessoas. Se vivesse no campo não falaria com ninguém. Por isso gosto de estar perto de uma grande cidade.

Trouxe discos e livros dos EUA?
Quando vim trouxe uma mochila e uma pequena mala. Acho que não trouxe nada de especial. Nunca fui daquelas pessoas que têm muitos discos. Nem tenho uma aparelhagem em casa... Quando escuto música faço-o no meu estúdio, onde tenho boas colunas. E sinto que quando estou a ouvir música concentro-me mesmo. É uma aventura mais especial. Vou a casa de amigos e eles estão constantemente a mudar o disco no gira-discos. Gosto disso. Mas quando estou comigo mesmo não é coisa que faça.

Não vivemos muitas vezes afogados em música em excesso?
A música pode dar cor a um lugar de uma forma bem agradável. Mas acho que cria dois tipos de experiência auditiva. Um em que não estamos a prestar atenção. E há música que serve para nem se ouvir com essa atenção. Mas com a música de que gosto mais sinto que preciso de escutar e sentir o seu poder.
(continua)