É uma lei conhecida de mais de 100 anos de história do cinema: o poder mais forte, isto é, que condiciona todos os outros, não está necessariamente na produção, mas na distribuição. Resta saber se o exercício desse poder não conduz ao desmantelamento... do próprio cinema.
É isso mesmo que se analisa no site The Wrap, a propósito de discussões travadas no recente CinemaCon, em Las Vegas, reunião anual dos proprietários de salas dos EUA. Com um título elucidativo — 'Os estúdios estão determinados em matar o negócio do cinema' —, analisam-se os efeitos práticos de medidas como a generalização de formas de aluguer de filmes a preços que foram anulando o mercado convencional do DVD e ainda a criação de plataformas de aluguer na televisão por cabo, VOD (video-on-demand), por vezes com títulos que ainda estão nas salas. Tudo isto num contexto em que, paradoxalmente, se exigiu aos exibidores a adaptação (com avultados investimentos) à nova tecnologia de projecção digital.
Dizer que o cenário se pode transpor, tal e qual, para o espaço português seria precipitado. Quanto mais não seja porque Portugal não tem nada que se pareça, nem de longe nem de perto, com as estruturas industriais dos EUA. Em todo o caso, vale a pena ler o muito didáctico artigo de The Wrap, já que ele chama a atenção para uma contradição dramática, cada vez mais sensível também em Portugal. Ou seja: a proliferação de mecanismos de lucro imediatista que, além de cegos em relação à pluralidade do cinema contemporâneo (ou antigo...), vão desmantelando o poder comercial & simbólico das próprias salas.
Dito de outro modo: como sustentar um mercado cinematográfico cujos poderes dominantes não sabem (não podem ou não querem) valorizar as suas salas como montra decisiva para o impacto comercial de qualquer filme?