domingo, março 20, 2011

Um nome para 2011


Este texto foi originalmente publicado na edição de 5 de Março do DN Gente com o título ‘Para descobrir os sons do silêncio’

Foi a sós, no seu quarto, que deu forma a uma versão de um tema original de Feist. Limit to Your Love é o título da canção, que, na sua forma original, encontrávamos em The Reminder, o álbum de 2007 da cantora canadiana. Animado pela descoberta dos sons do dubstep, James Blake encontrava outra forma de abordar a canção, jogando entre silêncios, electrónicas e uma dieta minimalista de elementos. Talhava assim uma versão a pensar em discotecas. Mas, contra o que esperava, o jovem músico londrino começou a ver amigos a dizer-lhe que tinham escutado a sua canção na rádio. Como se não bastasse, o seu nome surgiu entre os mais bem cotados na votação da lista de grandes esperanças para 2011 da BBC (o Sound of 2011, onde acabaria em segundo lugar). E agora o seu álbum de estreia surge cantado aos quatro ventos como um dos primeiros grandes fenómenos do ano entre críticos e bloggers... Moral da história: nem toda a música que nasce em clima de desafio e com gosto pela experiência de novas formas acaba necessariamente como um fenómeno de margens. À sua maneira, e à sua dimensão, James Blake é já um dos casos de 2011.

Nas últimas semanas o seu nome tem sido presença recorrente pela imprensa mundial. A revista Q chamou-lhe o "mestre Jedi do dubstep". O Daily Telegraph vincou antes o carácter visionário do seu som, num artigo a que chamou "É pop, mas não como a conhecemos". A MixMag optou antes por um programa de sugestões: "Respire fundo, e mergulhe..."


Para quem acompanha desde há cerca de um ano os passos deste jovem músico britânico, o fenómeno de quase unânime entusiasmo que tem acolhido a chegada do seu álbum de estreia não será assim tão grande surpresa. Afinal, as promessas que deixou em quatro EP que editou nos últimos meses em tudo apontavam ideias e visões que o álbum molda agora no formato de canções desenhadas por electrónicas que servem, como uma luva, a voz frágil de James Blake.

Esta alma herdeira de tons soul não será também surpresa tendo em conta que cresceu a ouvir, entre outros, os discos de Stevie Wonder. Apontando ainda nomes como os de Arthur Russell ou Bonnie "Prince" Billy entre os que mais admira.

É o único filho de uma designer gráfica e de um músico. E estudava já música quando, intrigado pelo dubstep, visitou o clube londrino FWD>>. Achava até então que a música de dança era coisa que se esgotava no trance... Mas foi ao entender esta música que descobriu o seu caminho. Defendendo-o, vincando personalidade, das ideias que foi criando no seu quarto nascendo as composições que, primeiro nos EP, agora no seu álbum de estreia, fazem de si um nome já fundamental na escrita de um episódio novo na história da música popular que, com ele (e mais alguns outros seus contemporâneos), começa agora a ganhar forma. Ainda vamos ouvir falar muitas vezes deste jovem senhor.