terça-feira, março 15, 2011

Novas edições:
Tennant / Lowe, The Most Incredible Thing


Tennant / Lowe
“The Most Incredible Thing”

Parlophone / EMI Music

4 / 5


Não é ainda o sucessor de Yes, uma nova colecção de canções dos Pet Shop Boys não morando ainda na linha do horizonte do duo. Mas sem silêncio na sua agenda editorial, Neil Tennant e Chris Lowe apresentam The Most Incredible Thing, um álbum (que assinam no nome dos dois, creditando contudo a interpretação aos Pet Shop Boys) que não é mais senão a gravação da música original que criaram para uma nova coreografia a estrear ainda esta semana no palco do Sadler’s Wells, em Londres. Baseado no conto homónimo de Hans Christian Andersen, que nos dias da II Guerra Mundial chegou a ser usado pela resistência dinamarquesa como uma luz de esperança em melhores dias, a música nasceu em duas fases de trabalho, entre 2008 e 2010, na recta final acolhendo a presença dos arranjos de Sven Helbig, a gravação passando depois pela Polónia, para acolher a colaboração da Wroclaw Score Orchestra, dirigida por Dominic Wheeler. Expressão áudio de uma ideia que, com coreografia de Javier de Frutos, vai entretanto ganhar corpo físico em palco, o disco é mais um exemplo da rara versatilidade (sem nunca abdicar de firmes marcas de identidade) da obra dos Pet Shop Boys. Não é, sabemos, a primeira vez que se aventuram para além das fronteiras da canção pop, pela sua obra contando-se já a composição de um musical de palco, música para teatro ou mesmo uma banda sonora alternativa para um filme mudo (O Couraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein, muito concretamente). Ao estrear-se no palco da dança, os Pet Shop Boys retomam um relacionamento dialogante entre a pop electrónica e a música orquestral que lhes deu já clássicos como o single Left To My Own Devices ou o álbum ao vivo Concrete, gravado com a BBC Concert Orchestra. Entre a arquitectura de formas definida pelas electrónicas e o lirismo e a carga narraiva traduzida pela orquestra, juntando a (breves) momentos a própria voz de Neil Tennant, a música de The Most Incredible Thing, mais que um mero compasso de espera num tempo entre álbuns de canções, é mais um exemplo de vistas largas, capacidade de integração de novos elementos e de um gosto pelo desafio numa obra que mora definitivamente entre as forças centrais da música do nosso tempo.