Um livro curto, com uma escrita enxuta e uma narrativa arrebatadora. Este texto, sobre O Vampiro de Ropraz, de Jacques Chessex, foi publicado na edição de 29 de Janeiro do DN Gente.
Que o título não induza em erro, uma vez que, na verdade, não se trata de uma história de vampiros (ou seja, não se iludam os que procuram novas manifestações do filão Twilight e derivados). O Vampiro de Ropraz foi um dos últimos textos de Jacques Chessex (1934-2009), escritor suíço com obra que passa pela prosa, pela poesia e pelo ensaio (tendo assinado várias reflexões sobre pintura). Com uma contida economia nas palavras, e uma impressionante clareza nas imagens, Jacques Chessex narra em apenas 75 páginas uma história alimentada pelo horror e pelo medo (ao que parece com ponto de partida encontrado em acontecimentos reais). Estamos em Ropraz, no Alto Jura, cantão de Vaud (Suíça), em 1903. Uma "terra de lobos e de abandono, mal servida por transportes públicos", onde "as ideias não circulam, a tradição pesa, a higiene moderna é desconhecida", lemos logo na primeira página. Estamos num lugar onde se fazem "rezas de esconjuro ou de exorcismo" e se vive sob um clima de "avareza, crueldade, superstição" e onde, descreve ainda o escritor, "as pessoas barricam-se no seu cérebro, no seu sono, no seu coração, nos seus sentidos". É aqui que um dia o horror chega quando a campa de uma jovem é profanada. Cenário que se repete depois numa terra ali por perto. E outra vez mais, não muito longe dali. De um "vampiro" se fala então naquelas terras, o horror da notícia cedendo ao medo, partindo daí uma narrativa contida nas palavras, mas pungente nas imagens.