sábado, fevereiro 05, 2011

O momento da (re)descoberta


A assinalar os 75 anos de Arvo Part, mas também os 25 da sua ligação à ECM, foi reeditado o seu álbum de estreia para a editora: o clássico Tabula Rasa. O disco surge em duas versões, numa delas recuperando o original, numa outra juntando um livro. Este texto foi originalmente publicado na edição do DN de 16 de Janeiro, com o título ‘Reencontro com um disco que fez história’.

Quando, em 1984, Tabula Rasa teve a sua primeira edição em vinil, Arvo Pärt era ainda um ilustre desconhecido para a esmagadora maioria dos que, no mundo ocidental, seguiam os mais estimulantes passos da música de então. O disco que assinalou a estreia do compositor pelo catálogo da ECM gerou, no entanto, um inesperado surto de entusiasmos, transformando-se inclusivamente numa das grandes referências da música da recta final do século xx. Tanto que em 2010, ao assinalar os 75 anos de Pärt, a editora à qual ainda hoje se mantém ligado celebrou o seu aniversário com um novo lançamento (a Sinfonia Nº 4) e uma reedição. Nesta última recordando o "clássico" Tabula Rasa, agora num lançamento especial juntando ao disco um livro de mais de 200 páginas.


Incluindo duas versões de Fratres (obra que reflecte o interesse do compositor pelo minimalismo), Cantus e Tabula Rasa, o disco levou longe a obra de um compositor nascido na Estónia em 1937 e que, consequência de conflitos com o poder soviético (o país era então uma república integrada na URSS), se mudou para Berlim em inícios dos anos 80. Foi aí que conheceu Manfred Eicher, o patrão da editora ECM, o álbum Tabula Rasa tendo representado depois o lançamento do hoje conceituado catálogo ECM New Series.

O disco, juntamente com os que se seguiram - Arbos (1987) e Passio (1988) -, fizeram de Pärt uma figura de primeiro plano entre os nomes da música que, em solo europeu, partilhando genéticas distintas dos americanos, reflectiam outras formas de abordar o minimalismo. Com o tempo, e juntamente com contemporâneos como John Tavener e Henryk Gorecki, acabaria por ser associado ao chamado minimalismo sagrado.

Tabula Rasa, em 1984, chamava a estúdio, para gravar a música de Arvo Pärt, nomes como os de Keith Jarrett (piano), Gidon Kremer (violino), Alfred Schnittke (piano preparado) ou o maestro Dennis Russel Davies. Agora, na nova reedição, um livro junta ensaios, a partitura das obras e um fac-símile das folhas de trabalho do compositor.