segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Novas edições:
PJ Harvey, Let England Shake


PJ Harvey
“Let England Shake”

Vagrant / Universal

5 / 5


Desde a sua estreia em Dry (1992) que em PJ Harvey conhecemos uma das mais talentosas vozes criativas que, nascida de uma genética de referências rock, tem entretanto caminhado rumo ao desenvolvimento de uma personagem que hoje vive adiante dos horizontes de género para se afirmar, antes de tudo, como uma autora com personalidade demarcada. Se no excelente To Bring You My Love (1995) dava já claros sinais de demanda adiante das linguagens formadoras que assistiram à sua estreia, no mais recente White Chalk (2007) a opção pelo confronto íntimo entre a voz e o piano faziam julgar que a viagem não poderia ir muito mais adiante, tão longe que se mostrava da carnalidade eléctrica que definira a sua estreia em álbum 15 anos antes. Mas na verdade acaba de nos surpreender uma vez mais num disco que, se por um lado retoma as guitarras como parceiro protagonista para uma voz cada vez mais capaz de uma assombrosa teatralidade, por outro segue caminhos que do rock (e suas genéticas) colhe apenas as linhas mestras de uma música que, ora mais minimalista, ora aceitando o desafio de cenografias mais elaboradas, vive cada vez mais distante das necessidades de caracterização de género. Se nas formas musicais Let England Shake é nova afirmação de uma sólida visão autoral (que de PJ Harvey faz, cada vez mais, a maior figura feminina nascida na cultura rock’n’roll depois de Patti Smith), nas palavras é, mais que um manifesto político, um olhar crítico pelo mundo dos nossos dias, reflectindo sobretudo sobre a guerra e o seu poder devastador. Ora evocando a batalha de Gallipoli (na primeira guerra mundial), ora focando mais claramente os cenários que dia a dia lemos nas notícias, PJ Harvey faz do disco um espaço que, nunca panfletário, não deixa contudo de ser um exemplo de uma noção contemporânea do que é um disco político, a Inglaterra dos nossos dias conhecendo aqui o seu melhor retrato desde o que Damon Albarn (e companhia) desenhou há poucos anos através do colectivo The Good The Bad and The Queen. Let England Shake não só é o melhor disco de PJ Harvey até ao momento, como é presença que não deverá faltar nas listas que, lá para Dezembro, fizerem o balanço dos melhores álbuns de 2011.