Foi um dos mestres da fotografia portuguesa do século XX: Gérard Castello Lopes faleceu a 12 de Fevereiro, em Paris, contava 85 anos.
Nascido em Vichy, em 1925, licenciou-se em economia, em Lisboa, vivendo quase sempre entre Portugal e França. Dedicou-se à fotografia desde 1956 mas, de facto, só a partir dos anos 80 assumiu mais sistematicamente essa actividade. No seu trabalho [três exemplos, em baixo] pressente-se a herança de um neo-realismo transfigurado, ou melhor, uma crítica subtil dos pressupostos neo-realistas de abordagem das personagens anónimas do povo. Por vezes, as suas imagens integram uma melancolia que nos faz sentir o carácter inexorável do tempo, porventura aproximando-se da durée cinematográfica.
Foi também, aliás, um homem de cinema, como distribuidor na empresa da família (Filmes Castello Lopes), como crítico de cinema (por exemplo na revista O Tempo e o Modo, entre 1964 e 1966) e ainda como criador (realizou, conjuntamente com Fernando Lopes e Nuno Bragança, a curta-metragem Nacionalidade: Português, de 1970). A sua obra é, infelizmente, pouco conhecida da maioria dos portugueses — há nela, em particular, uma visão dos tempos do Estado Novo que, mais do que nunca, importa reencontrar: as suas imagens resistem aos clichés que nos impedem de olhar a própria diversidade interior do nosso país e da sua história.
>>> Obituário no Diário de Notícias.