sábado, fevereiro 19, 2011

Entre a tradição (e uma visão)


A Naxos lançou recentemente o quarto volume de uma série que, ao longo dos dois últimos anos tem vindo a projectar para lá das nossas fronteiras a música para Orquestra de Luís de Freitas Branco (1890-1955), um dos maiores sinfonistas da história da música portuguesa.

Novamente sob a direcção de Álvaro Cassuto, à frente da RTÉ National Symphony Orchestra (da Irlanda), este quarto volume toma como peça central a Sinfonia Nº 4 de Freitas Branco. Composta entre 1944 e 1952, a sinfonia foi dedicada ao seu discípulo Joly Braga Santos (precisamente o outro grande sinfonista português) e, tal e qual a “segunda”, toma como ponto de partida uma reflexão sobre o canto gregoriano. Como explica o maestro no booklet, a sinfonia é como “uma abordagem estilística neo-clássica” a modelos românticos tardios e segue a tradição da obra em quatro andamentos que tomara desde os anos 20. O disco inclui, além desta sinfonia, a o poema sinfónico Vathek, que data de 1913, obra que o maestro descreve como a mais “revolucionaria” de Freitas Branco e que apenas conheceu estreia em 1950, a versão aqui gravada correspondendo a uma revisão que só seria escutada pela primeira vez em Lisboa em 1961. A obra explora dissonâncias e modelos ainda não escutados na música portuguesa do seu tempo e, de facto, traduz um momento de inspirada visão que podemos assinalar entre os instantes musicalmente mais estimulantes de toda esta série de novas gravações de obras do compositor português.