domingo, fevereiro 13, 2011

Ecos de outros tempos


O disco de estreia da violinista Lisa Batiashvili para a Deutsche Grammophon reúne uma série de peças de compositores cujas vidas cruzaram os espaços e tempos do poder soviético.

Natural da Georgia, mas desde há longos anos residindo na Europa ocidental, Lisa Batiashvili é, de certa forma, uma herdeira de David Oistrakh, uma vez que teve como professor um antigo aluno do grande violinista russo. E foi através do professor, bem como por memórias vivdas em família, que cedo ganhou uma relação particular com a música de Shostakovich. E neste seu primeiro disco para a DG sublinha o peso dessa relação primordial ao gravar o seu Concerto para Violino Nº 1. “ A obra transformou-se num símbolo de um tempo na vida da União Soviética”, recorda a violinista no booklet do disco. “Os músicos nesse tempo procuravam uma liberdade que Shostakovich também tentava encontrar através da sua música”, explica. A música era assim como um escape e também um símbolo de liberdade num “tempo em que era difícil funcionar num sistema incrivelmente brutal”, acrescenta. E, tomando este ponto de partida, Lisa junta neste alinhamento uma série de nomes cujas vidas e obras procuraram também esse sentido de liberdade (por vezes em clima de confronto com o poder), na presença do Vocalise Op 34 de Rachmaninov procurando, por outro lado, os ecos de uma nostalgia que o compositor projectou na sua música. O Concerto para Violino Nº 1 de Sostakovich é a peça central do disco, no qual a violinista surge acompanhada pela Symphonieorchester des Bayerisches Rundfunks, dirigida por Esa-Pekka Salonen. O disco inclui ainda V&V, uma peça para violino, voz gravada e orquestra de cordas de Gyia Kancheli e, com acompanhamento ao piano por Helene Griamud, o belíssimo Spiegel Im Spiegel, de Arvo Pärt.