Tantas vezes pretexto para "curiosidades" e "estatísticas" mais ou menos pueris, os Oscars são todos os dias objecto de formatação mediática. Assim, depois dos muitos discursos edificantes sobre a presença feminina no ano passado (com a vitória de Kathryn Bigelow e do seu magnífico Estado de Guerra), este ano está banalizado, para não dizer esquecido, o facto de dois dos títulos candidatos a melhor filme serem realizados por mulheres: Lisa Cholodenko (Os Miúdos Estão Bem) e Debra Granik (Despojos de Inverno).
Em qualquer caso, o que conta não são essas quantificações, mas... os filmes. E se Cholodenko não é uma desconhecida, Granik surge como a genuína outsider dos Oscars deste ano, ou melhor, como um admirável exemplo da lógica mais genuína da produção independente.
Despojos de Inverno — Winter's Bone, quatro nomeações (já premiado em Sundance) — é um modelo de austeridade conceptual e narrativa, desmontando o negrume e as relações interiores de uma zona do Missouri marcada pela fabricação de drogas e assombrada pela pobreza. A estreia portuguesa está marcada para 17 de Fevereiro.