quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Berlim 2011 — um cineasta radical


Béla Tarr, húngaro, nascido em 1955, é um dos grandes cineastas contemporâneos. Mesmo se é verdade que o seu O Homem de Londres (2007) deixou uma desconcertante sensação de bloqueamento criativo, Tarr é autor de uma obra fascinante, dir-se-ia documental pelas origens, mítica pela obstinação visionária (entre nós revelado em finais dos anos 70, nos tempos heróicos do Festival da Figueira da Foz). Numa palavra austera, diremos que ele é um artista radical, vivendo o cinema para além de qualquer ilusão de transparência ou normalização narrativa. Digamos, então, para simplificar que há o 61º Festival de Berlim, com filmes "bons", "maus" e "assim-assim"... e há Béla Tarr: o seu A Torinói Ló (O Cavalo de Turim) é um inclassificável delírio rural (?), inspirando-se num episódio protagonizado por Friedrich Nietzsche (!) e centrando-se da existência crua de um homem, a sua filha e um cavalo numa paisagem que tem tanto de tragédia natural como de imaginário cósmico. Se mais não houvesse, Berlim 2011 estaria justificado pela revelação deste filme.