Como filmar Israel? E também: como filmar em Israel? A pergunta está longe de ser meramente retórica, quanto mais não seja porque a formatação das imagens televisivas todos os dias nos faz ver (e não ver) o nosso mundo através de alguns (poucos) clichés mais ou menos moralistas. O filme israelita Lipstikka, coproduzido com a Grã-Bretanha e realizado por Jonathan Sagall, não será dos mais consistentes desta edição da Berlinale: é mesmo um objecto que vai revelando algumas soluções fáceis de construção narrativa. Mas é também um filme que tem a virtude de nos lembrar que o real possui uma espessura — factual, simbólica, etc. — impossível de normalizar por razões meramente "informativas". Dito de outro modo: esta é a história de duas mulheres palestinianas que se reencontram em Londres, partilhando memórias difusas e contraditórias dos tempos da adolescência, em Ramallah, e de algumas peripécias traumáticas vividas durante o recolher obrigatório. Mais ainda: tudo isso surge contaminado por um inesperado e perturbante subtexto sexual. Ou como os filmes vivem também das perguntas, dúvidas e hesitações que nos fazem sentir.