domingo, janeiro 02, 2011

"Tulpan": notícias do Kazaquistão


Tulpan, de Sergey Dvortsevoy, é uma pequena grande revelação do cinema do Kazaquistão: através da história de uma família dedicada ao tratamento e sobrevivência do seu rebanho, descobrimos a história dramática e irónica de um jovem que quer que a sua eleita (Tulpan) aceite casar com ele... O realizador, formado no documentário, ensaia aqui o seu primeiro trabalho de ficção — a entrevista que se segue foi publicada no Diário de Notícias (31 de Dezembro).

Sergey Dvortsevoy reconhece as componentes documentais do seu filme Tulpan, mas faz questão em sublinhar que tudo foi concebido como um trabalho de ficção. Amavelmente, o realizador prestou-se a responder a algumas questões através de e-mail.

Ao filmar Tulpan, sentiu que estava de alguma maneira a fazer “outro” tipo de documentário?

Não. Senti-me a fazer um filme de ficção, já que todas as situações e relações entre as personagens eram ficcionais. Claro que sabia que as cenas com animais iam ser próximas do documentário: os animais não representam, apenas vivem. Em todo o caso, não tinha dúvidas de estar a fazer um filme de ficção. Se se parece com um documentário, bem... entendo-o como um cumprimento. Sinto-me feliz por os meus actores terem esse tipo de presença orgânica.

Onde se situa a acção? É uma zona muito distante das principais cidades do Kazaquistão?
Estamos no Kazaquistão Central, a 500 quilómetros da cidade de Shimkent. É um lugar conhecido como a “Estepe da Fome”. São centenas de quilómetros de estepe plana: sem árvores, sem colinas, sem montanhas.

Como escolheu os actores? Era importante que, de alguma maneira, soubessem como viver numa paisagem daquele tipo?
Em primeiro lugar, tentei encontrar bons actores, isto é, actores com uma presença muito física (detesto a maneira “teatral” de representar). E não foi fácil. Enviei os meus assistentes com uma pequena câmara, para filmarem pessoas numa série de cidades do Kazaquistão. Daí que tenha acabado por ter vários candidatos para cada uma das personagens. Acabei por escolher jovens actores profissionais e também alguns habitantes locais.

E as crianças? Como as dirigiu?
Nunca ensaiei com as crianças, especialmente com o mais pequenito. Limitei-me a brincar com ele. Por exemplo nas cenas no “yourt” (a casa/tenda), ensaiávamos com todos os actores e a equipa, depois abríamos as portas e o rapaz aparecia. Era como estar numa gaiola num circo: o rapaz era o leão mais jovem. Fazia o que lhe apetecia, enquanto os actores representavam.

Que importância teve o prémio na secção “Un Certain Regard” do Festival de Cannes (2008)? Serviu para abrir novos canais de distribuição?
O prémio de “Un Certain Regard” foi importantíssimo: graças a ele, o filme foi vendido para mais de quarenta países.