segunda-feira, janeiro 17, 2011
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Anna Calvi, Anna Calvi
Anna Calvi
“Anna Calvi”
Domino / Edel
5 / 5
O ano não podia começar de melhor maneira! Chama-se Anna Calvi, correu em tempos pelos circuitos nu-folk londrinos, mas descobriu um caminho num espaço que tanto herda de tradições clássicas da cultura pop/rock como de um sentido de elaboração cénica que mais parece coisa do mundo do cinema. De resto, e além dos rasgados elogios (plenamente justificados) de Brian Eno, um dos seus admiradores de primeira hora, o desfile de nomes que temos visto associados a textos sobre Anna Calvi vai de figuras tutelares como as de Pattti Smith ou PJ Harvey (todavia sem a alma poética da primeira) a respeitáveis realizadores como David Lynch ou Wong Kar-Wai. Referências em tudo certeiras, acrescente-se. O álbum que apresenta um dos nomes apontados em várias frentes a merecer atenções em 2011 não só dá plena razão em quem depositou expectativas em Anna Calvi como nos mostra um daqueles raros discos de estreia que parecem mais que um promissor programa de intenções. As canções não são apenas exemplos de composição de aprumada carpintaria como se mostram formalmente moldadas a uma ideia que serve em plenitude as capacidades dramáticas de uma voz que ecoa heranças de Patti Smith, PJ Harvey ou Siouxsie Sioux e faz corar de vergonha as alminhas góticas de pré-primária que a maré de inconsequente revivalismo gótico tem revelado nos últimos tempos. A música de Anna Calvi revela horizontes vastos, espreitando além das cercanias próximas as genéticas da música eléctrica e integrando elementos que expressam um sentido de espaço, definindo sugestões de ambiente e cenografia com afinidades ao que encontramos, por exemplo, no cinema de um David Lynch. As sombras que intrigam, a escuridão que se anuncia, habitando em torno de uma voz que liberta a luz mas habita não muito distante de uma cativante penumbra que não se explica mas sente. Em dez canções (a soma “clássica”) Anna Calvi apresenta-se com invulgar segurança para quem dá os primeiros passos. E tem em Anna Calvi o cartão de visita certo para desde já inscrever o seu nome entre os acontecimentos do ano.