Midge Ure
“The Gift”
EMI Catalogue
3 / 5
Não será o homem dos sete ofícios, mas sim o das quase sete bandas, seis tendo sido as que, desde meados dos setentas, acolheram o trabalho deste escocês, dos Rick Kids aos Thin Lizzy, dos Slik aos Visage, passando pelo colectivo Band Aid e, claro, os Ultravox. Foi nestes últimos que, ao substituir John Foxx em finais de 1979, e editando uma sucessão de álbuns e singles de sucesso entre 1980 e 1986, Midge Ure ganhou o seu lugar na história da pop britânica dos oitentas, em concreto afirmando-se primeiro como um dos rostos-chave da vaga neo-romântica, depois conquistando espaço de afirmação mainstream. Apesar de essencialmente dedicado aos Ultravox na primeira metade dos oitentas (partilhando a início o espaço de trabalho com os Visage), Midge Ure cedo lançou bases para uma carreira a solo, a principio com singles pontuais, mais tarde, e num período de pausa no trabalho com a sua banda, apresentando mesmo um primeiro álbum. Editado em 1985 (no mesmo ano em que os Ultravox lançavam uma antologia de singles e apenas um inédito), The Gift é contudo um herdeiro directo do trabalho com os Ultravox, as suas raízes apontando clartamente ao trabalho de teclas épico proposto em Quartet (1982) e aos primeiros sinais de uma ideia de diálogo com heranças folk que haviam revelado em Lament (1984) e que aprofundariam depois no algo inconsequente U-Vox (1986). O álbum ganhou visibilidade em parte como consequência do sucesso do single de apresentação If I Was (que chegou ao nº 1 no Reino Unido), o segundo (e mais interessante) single, That Certain Smile (claramente em território Ultravox), não colhendo já a mesma atenção. Com protagonismo dividido entre guitarras e teclas, entre a pop pomposa de uns Ultravox e ecos de uma ruralidade que Midge Ure aqui começava a experimentar, The Gift não acrescenta na verdade muito mais ao que, um ano antes, os Ultravox haviam revelado em Lament. A nova edição, com som remasterizado, junta ao álbum um segundo CD com outros singles a solo de Midge Ure daqueles tempos (entre os quais o belíssimo No Regrets, dos Walker Brothers) e os lados B dos singles e máxis relacionados com o álbum, onde encontramos novas leituras para The Man Who Sold The World de Bowie e Fade To Grey dos Visage.