sexta-feira, dezembro 10, 2010
Reedições:
Amália Rodrigues, Com Que Voz
Amália Rodrigues
“Com Que Voz”
Valentim de Carvalho / iPlay
5 / 5
Não se deve começar um texto pelo fim. Mas desta vez vai ser mesmo assim, lançando desde já o remate que diz que estamos perante aquela que é talvez a melhor reedição alguma vez feita entre nós, lançando um modelo que, sendo difícil que se venha a definir como paradigma de um novo modo de encarar a memória da música portuguesa, deixa contudo sugestões em favor de uma atitude que reconhece que reeditar um disco que fez história (e que ainda a pode ajudar a contar) não é sinónimo de restaurar o som, capa linda e ponto final. Com Que Voz é a obra-prima de Amália em disco… Bom, na verdade Amália tem outros discos que podem disputar este estatuto ex-aequo (passando pelo ‘Busto’ de 1962 ou o igualmente marcante Fado Português, de 1965)… Mas em Com Que Voz encontramos não apenas Amália numa forma vocal de absoluta excelência como um alinhamento de magníficas composições de Alain Oulman para poemas de Manuel Alegre, Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos, Pedro Homem de Mello, Cecília Meireles e António de Sousa, aos quais se junta o que dá título ao disco, atribuído a Luís de Camões. O “disco perfeito”, como justamente o descreve o depoimento de Hugo Ribeiro (que gravou o disco) no booklet que acompanha esta reedição. O booklet é mesmo um dos valores acrescentados deste reencontro com Com Que Voz, juntando em 88 páginas uma série de textos que recordam o disco, os protagonistas e o contexto de tempo em que nasce. Os poemas. E uma mão cheia de belíssimas fotos da época… Os outros dois trunfos da reedição são a remasterização do som e um CD extra no qual se juntam, sobretudo, versões inéditas, entre as quais uma espantosa leitura com orquestra de Havemos de Ir a Viana (sob direcção de Jorge Costa Pinto), uma Formiga Bossa Nova mais jazzy (com o Conjunto de Thilo Krassman) ou uma série de temas a quatro guitarras. Venham então mais reedições deste calibre. As dos discos de Amália que já chegaram ao CD. E as dos que ainda só vivem na memória do vinil.