Esta é a sala da capital da Estónia onde se vai realizar a cerimónia dos 23ºs Prémios do Cinema Europeu, um evento quase ignorado pela... Europa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (29 de Novembro), com o título 'Que prémios do cinema europeu?'.
No próximo sábado (4 de Dezembro), no Nokia Concert Hall [foto] de Tallinn, capital da Estónia, realizar-se-á a 23ª cerimónia dos Prémios do Cinema Europeu. Promovidos pela Academia de Cinema Europeu, são muitas vezes referidos como os “Oscars” da Europa. Dito de outro modo: pelo menos no plano simbólico, são os mais importantes na dinâmica da produção cinematográfica europeia. Em todo o caso, a designação envolve uma dramática ironia. De facto, vale a pena perguntar: nos últimos tempos, quantas referências informativas já vimos a estes prémios?
Em boa verdade, a cobertura jornalística dos prémios europeus (antes e depois da sua realização) é sempre muito escassa. Basta repararmos no contraste com o que está a acontecer há várias semanas em torno dos Oscars (marcados apenas para 27 de Fevereiro de 2011): na prática, começaram a proliferar notícias e especulações sobre candidatos. Há mesmo todo um estilo jornalístico, com grande representação na Internet, que menospreza tudo o que tenha a ver com cinema europeu, ao mesmo tempo que celebra as mais anedóticas peripécias de Hollywood (não poucas vezes, fazendo coexistir tudo isso com o mais primário anti-americanismo político).
Escusado será dizer que nenhum pretexto, nem mesmo as feridas interiores do cinema europeu, justifica que minimizemos a fascinante energia criativa do actual cinema americano. Do mesmo modo, seria pura demagogia atribuir os problemas de divulgação da produção europeia apenas às vertentes mais medíocres do trabalho jornalístico. A questão de fundo (e tem pelo menos 23 anos...) é a extrema dificuldade que as estruturas europeias do cinema revelam na promoção dos seus próprios valores e produtos.
Claro que, para além das singularidades políticas de cada país, nada disto pode ser desligado de uma ideia fraca (politicamente fraca, antes do mais) que quase ninguém quer enfrentar: a noção corrente de “cinema europeu” é tanto mais inoperante quanto não corresponde a nada de economicamente forte e consolidado. É espantoso, aliás, como se continua a acreditar que é possível promover os filmes europeus por razões “patrióticas”, sem discutir, de forma séria e construtiva, o poder de algumas empresas americanas nos mercados europeus.
Dito isto, convirá não esquecer que O Escritor Fantasma, de Roman Polanski [foto], surge como o título mais forte entre os candidatos, com sete nomeações, incluindo melhor filme, melhor realizador e melhor actor (Ewan McGregor). Polanski já foi, aliás, homenageado pela Academia de Cinema Europeu, tendo recebido em 2006 o prémio de carreira. E porque é salutar pensar as contradições do cinema também através dos seus muitos cruzamentos, convém lembrar que, apesar de impedido de entrar nos EUA, Polanski recebeu o Oscar de melhor realizador de 2002, com o filme O Pianista.
>>> Site dos Prémios do Cinema Europeu.
>>> Site da Academia de Cinema Europeu.